FRAGMENTOS DE DRUMMOND - PARTE IV - Aula no ensino médio

Poemas digitados/impressos para os alunos ou participantes de uma palestra. --- Projeções ilustrativas de letras de poemas e também das (publicadas em vários livros, 'caminhando lado a lado') curiosas fotos enciclopédicas dos maiores poetas modernos da língua portuguesa: FERNANDO PESSOA, Lisboa, década de 20, e de CARLOS, "Beagá", década de 30, extraordinária semelhança nos trajes, gravata, chapéu de aba, empertigados e modo de andar.

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CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, carinhosa e resumidamente CDA, um dos maiores poetas brasileiros e da literatura ocidental do século XX - obra poética vasta, densa de poesia, refletindo a vida do ser humano do atormentado século XX - estilo anti-retórico (simples), irônico e observador do prosaico, ou seja, comum, cotidiano. ----- Toda criação artística é uma forma de jogo, a função lúdica da arte, mas jogo e brinquedo sério, não gratuito. ----- Aspectos importantes da sua obra poética - evasão X participação, individualismo X solidarismo.

REVISTA, de "Beagá", 1925 - primeiras publicações, ele projetado literariamente como poeta.

ALGUMA POESIA, primeiro livro, 1930, 500 exemplares de uma pequena edição paga em prestações pelo ainda obscuro autor, segunda fase do Modernismo - construção de uma poesia nova, adulta, que abandona cada vez mais a paródia e o poema-piada e passa a integrar-se mais de perto com o povo e a terra (a 'destruição' caracterizara o primeiro estágio do movimento) - incentivo de MÁRIO DE ANDRADE e de MURILO MENDES - representante típico desse momento: equilibrado, prudente, senhor da técnica antiga (conciliar valores estéticos do passado com liberdades do presente: poemas de forma fixa e versos regulares metrificados + liberdades), sem desvarios formais, lirismo... - Contato com sua gente, descrevendo a sua sensibilidade e a mocidade se exalta: "Ponho-me a escrever teu nome / com letras de macarrão" -- também desanima a seguir: "Há dias em que saio na rua de olhos baixos para que ninguém perceba que passei a noite inteira chorando" -- e algum desalento, pessimismo em sua poesia que provém da observação da vida comum: "Tristeza de guardar um segredo / que todos sabem / e não contar a ninguém (que nesta vida não presta" - objetividade na crítica social -- apesar do pessimismo, poeta sente que há salvação possível, a partir do próprio dinamismo da espécie e o confirma: "O homens não melhoraram / e matam-se como percevejos. / Os percevejos heróicos renascem. / Inabitável o mundo é cada vez mais habitado".

"Poema de sete faces" - Quando nasci, um anjo torto / desses que vivem na sombra / disse: Vai, Carlos, vai ser gauche na vida..." ----- decorrência da própria natureza, quase um destino; v.10a13, contradição que tanto se situa no mundo, quanto na realidade pessoal do poeta - entre os dados da contradição, 'coração' (sofre o impacto da realidade, emociona-se, espanta-se) versus 'olhos' (aceitam a realidade ela é, absorvem-na com avidez ou naturalmente); v.17 - praticamente resumo do significado geral dos v.14a16: sugestão de distância entre o homem e a realidade circundante, ratificada especialmente pela palavra 'atrás'.

"Explicação" - E a gente viajando sente saudades da pátria ----- pertencer ao povo, de ser ele mesmo o povo.

BREJO DAS ALMAS, 1934 - 'Perdi o bonde e a esperança. / Volto pálido para casa. / A rua é inútil e nenhum auto / passaria sobre meu corpo" - pessimismo do amor em seu todo, embora com seu tanto de esperança.

POESIAS, 1942 - novos rumos, adotando temas sociais (maior clareza em A ROSA DO POVO, 1945).

A ROSA DO POVO, 1945 - quinto livro, densidade de viver o mundo pela poesia, questionamento da expressão poética:

"Consideração do poema" - Não rimarei a palavra sono / com a incorrespondente palavra outono. (...) As palavras não nascem amarradas (...) Estes poemas são meus. É minha terra /e é ainda mais do que ela (...) Poeta do finito e da matéria, (...)

"Procura da poesia" - Não faço versos sobre acontecimentos / Não há criação nem morte perante a poesia. (...) Penetra surdamente no reino das palavras. / Lá estão os poemas que esperam ser escritos. Estão paralisados, mas não há desespero, / há calma e frescura na superfície intata.

A partir de A ROSA DO POVO, adesão do poeta à realidade presente, de forma ampla e ambivalente - ora desvendando a náusea que contamina o real, a insistência e a opressão dos impasses em que vive o homem, o desamor que o assola ora abrindo clareiras de vaga esperança, numa possível promessa, vislumbre de flor rompendo o asfalto dessa náusea, numa possível promessa de unidade, num mundo que sabe assim pulverizado.

"A flor e a náusea" - Uma flor nasceu na rua! / Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego. / Uma flor ainda desbotada, ilude a polícia, rompe o asfalto. / Façam completo silêncio, paralisem os negócios, / garanto que uma flor nasceu. (...) Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde (...) É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

"Canção amiga" - Eu preparo uma canção / que faça acordar os homens e adormecer as crianças. ----- esta letra, cantada por MILTON NASCIMENTO, entre outros.

E ele passa em revista o mundo pulverizado, dissecando-o no que tenha de mais recôndito, escondido, oculto, nos planos individual e social, com os pequenos dramas do cotidiano, amor, morte, resíduos do tempo na memória, nostalgia do passado, e os grandes dramas da humanidade, paz, guerra, profunda incomunicabilidade nas nações, na família, no próprio indivíduo, em relação a si mesmo e a realidade que o circunda. Por isso mesmo, verso frio, palavras despojadas, associações altamente metafóricas e sugestivas; tom geral cético, pessimista e, não raro, amargo. Pessismo, todavia, não apenas pelo ângulo da negação e nunca desumanidade - ao contrário, desvendar a máquina do mundo e as engrenações de que é feita, atento ao sentido do homem dentro dela: homem sem fé, vazio de crenças e mitos, mas tenso ao dominar os instrumentos de análise, vias de acesso racional ao seu próprio eu.

"Claro enigma" - Não amei bastante meu semelhante, / não catei o verme nem curei a sarna. / Só proferi algumas palavras, / Melodiosas, tarde, / ao voltar da festa. ----- poeta revertendo a si a crítica; nessa etapa da trajetória poética, após arroubos iniciais do Modernismo, um retorno ao soneto, arte sempre reconquistada.

"Mundo grande" - "Não, meu coração não é maior que o mundo. / É muito menor. / Nele não cabem nem as minhas dores. (...) Por isso gosto tanto de contar. (...) preciso de todos. / Sim, meu coração é muito pequeno. / Só agora vejo que não cabem os homens. Os homens estão cá fora, estão na rua. / A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava. / Mas também a rua não cabe todos os homens. / A rua é menor que o mundo. / O mundo é grande. (...) Só agora descubro / como é triste ignorar certas coisas. (...) Meus amigos foram às ilhas. / Ilhas perdem o homem. / Entretanto alguns sesalvaram e / trouxeram a notícia / de que o mundo, o grande mundo está cresendo todos os dias, entre o fogo e o amor. (...) - Ó vida futura! nós te criaremos. ----- constatação de capacidade limitada na capacidade de contemplar o mundo - ampliação progressiva do espaço visual e afetivo que partedocoração do poeta, passa pela rua e atinge o mundo - sua realidade era subjetiva: "Nele não cabem nem as minhas dores" - ele assume posição claramente solidária e confessa ter se evadido no passado: assume posição claramente participativa. Relações e explicitações de linguagem poética: ir às ilhas = evasão, individualismo; permanecer no mar = participação, solidarismo. --- em outro poema era "Mundo mundo vasto mundo / Mais vasto é meu coração"; neste, passou da evasão à participação.

"Confidência do itabirano" e "Mundo grande" - no primeiro poema, evocar origens serve para ilustrar "Outrora escutei os anjos... confissões patéticas." que está no segundo.

"Mãos dadas" (a partir do título, ação mais acentuada) e "Mundo grande"(predomina a contemplação) - em ambos, importantes paricipação e solidarismo.

"José" - sentenças afirmativas se relacionam com certezas; interrogativas com dúvidas - aqui, a quantidade de interrogações evidencia o caráter dominante de incertezas e impasses - questionário a José: o que fará de sua vda? o que lhe falta? o que lhe é permitido fazer? o que não veio? - posses de José: não reais e sim utópicas.

ANTOLOGIA POÉTICA, 1962 - na "Informação", ele mesmo explica - texto distribuído em 9 seções, cada uma com material extraído de diferentes obras, em ordem interna: indivíduo, terra natal, família, amigos, choque social, conhecimento amoroso, a própria poesia, exercícios lúdicos e visão da existência.

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CONFISSÕES DE MINAS / FALA, AMENDOEIRA / CADEIRA DE BALANÇO / O PODER UTRAJOVEM e outros - além de exímio poeta, foi também grande prosador.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 01/06/2018
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