FRAGMENTOS DE DRUMMOND - PARTE III - Aula no ensino médio

Aula sob a forma de palestra explicando o poema da obra SENTIMENTO DO MUNDO.........

A NOITE DISSOLVE OS HOMENS

"A PORTINARI:

A noite desceu. Que noite! / Já não enxergo meus irmãos. / E nem tampouco os rumores / que outrora me perturbavam. (...) A noite caiu, tremenda, sem esperança.. (...) O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos, (...) O mundo se tinge com as tintas da antemanhã e o sangue que escorre é doce, de tão necessário / para colorir tuas pálidas faces, aurora."

INTERPRETAÇÃO E COMENTÁRIOS

Considerando-se o momento histórico em que foi escrito e publicado o poema, 1940, o vocábulo 'noite' sugere, em termos internacionais, ainda o início da II GM, episódio ocorrido entre 1939 e 1945, que implicou o conflito, de um lado os chamados países "aliados" (Inglaterra, França e Estados Unidos) e de outro o Eixo (Alemanha, Itália e Japão).

/// Todavia, o mesmo vocábulo 'noite' pode também sugerir um evento próprio do Brasil, que perdurou de 1937 a 1945, a ditadura de Getúlio Vargas ou do Estado Novo. ----- Uma terceira hipótese, que não exclui as anteriores, é que a 'noite' também pode se associar a episódios da história da Espanha, a Guerra Civil Espanhola, começada em 1935 e prolongada até 1938; ao seu término, foi implantada a ditadura de Franco. ----- Confirmação, em termos gerais, claramente nas passagens "Nas casas, / nas ruas onde se combate", "Os suspiros / acusam a prsença negra / que paralisa os guerreiros", "O triste mundo fascista se decompõe" e "...as mãos dos sobreviventes se enlaçam..." ///

Fatos que, desde 1940 até 1945, contribuiram para a continuidade da 'noite', retardando a aurora: /Aqui, pesquisa do aluno e resosta livre./

Significado conotativo e metafórico de "noite" - "A noite é mortal, / completa, sem reticências, a noite dissolve os homens."

O verso "Já não enxergo (verbo usado conotativamente) meus imãos" sugere que as guerras e os regimes totalitários levam as pessoas a desconfiarem umas das outras e que os homens são dissolvidos, na medida e que tendem a perder a consciência de fraternidade e solidariedade.

Na prática, entre as consequências da guerra e dos regimes autocráticos, surgem o medo, a falta de esperança, a impossibilidade do amor e a morte.

"A noite dissolve os homens" - A noite dissolve as pátrias" - o verbo 'dissolver' assume o sentido de desunir, distanciar, destruir os limites.

Aqui, o verbo 'dissolver' sugere que a desintegração dos homens, como das nacionalidades, constitui um dos resultados da guerra; a dissolução é um fator negativo, tanto paraos homens como para os países; e não há valor positivo, nem em termos individuais nem em termos sociais, na guerra.

Consequências da chegada da noite - paralisa a vida, espalha o medo e a incompreensão, afasta as esperanças e desune os homens.

Essa noite impede o surgimento do amor; portanto, nesse poema, estabelece uma relação antitética.

Pela expressão "a noite é... sem reticências", o poema deixa clara uma analogia entre um recurso linguístico - as reticências, indicando continuidade - e um fato da vida real, que é sobreviver ou não sobreviver à guerra.

A rima, recurso basicamente de origem fonética, pode ter um significado maior, isto é, de também semântico, de significado, na expressão "apagou os almirantes / cintilantes!"

A negação da vida, provocada pela falta de horizontes trazida pela noite, está expressa dramaticamente no verso ""Os suicidas tinham razão".

O poema divide-se em duas partes intimamente relacionadas com o sentido geral do texto - a primeira diz respeito, especialmente, aos aspectos negativos da guerra e a segunda está intimamente relacionada com a esperança da paz.

O vocativo 'aurora', que abre a segunda estrofe, representa uma perspectiva de abertura de caminho para o amor.

A luta que o poeta antevê entre a noite e a aurora está explicitamente enunciada no verso ""Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações, / adivinhou-se que sobes, vapor róseo, expulsando a treva noturna".

Na segunda estrofe, o poeta adjetiva a noite, identificando-a com um período de obscurantismo e desumanidade por que passou o mundo - "O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos".

O verso ""Havemos de amanhecer" constitui uma antítese ao último verso da primeira estrofe.

O poeta termina seu poema confiante no surgimento da aurora, que trará consigo o amor e a paz.

As características deste poema permitem-nos afirmar que ele exemplifica o universalismo da segunda fase da poesia do Modernismo porque nele o autor se abre para os problemas do homem em geral, refletindo sobre a condição humana e não sobre seu destino pessoal.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 01/06/2018
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