A Ilha adormecida
A ilha adormeceu em plena luz do dia. Não era feriado nacional nem feriado de aniversário da cidade, mesmo porque, no feriado as pessoas saem de casa para passear, comer fora, ir à praia. Era um recesso involuntário.
Mal acordou naquela segunda-feira, respirou fundo o ar matutino e friozinho de outono, remexeu-se como se pensando o que fazer, bocejou, mas resolveu ficar mais um pouco.
O sol cálido saiu e deu as caras sorrindo, luminoso sob um céu muito azul, olhou para baixo repensando o dia.
Do outro lado do mar os caminhões dormiam também ao longo das estradas. Fazia dias que já não iam a lugar nenhum, enfileirados, pelas beiradas das rodovias, ficaram num descanso forçado e merecido.
Plantada dentro d'água, a ilha permaneceu longe, intocada pela fúria que se alastrou pelos caminhos asfaltados do país inteiro.
Vimos a solidariedade, a ganância a raiva e a revolta aflorando aos poucos, o povo enlouquecendo ante a expectativa de sofrer, por menor que fosse, com os respingos das consequências da paralização maciça daqueles que abastecem nossos carros, geladeiras e despensas.
Na TV não havia outro assunto, noticiavam tudo a todos em tempo real e, a partir daí, o furdunço estava formado. Comunicavam que o combustível acabou, que a comida também estava acabando, que os animais que iriam morrer no futuro para matar a nossa fome, ironia, estavam morrendo por falta de alimento, e que também acabaria os medicamentos.
Vi filas gigantes nos postos de combustíveis, pessoas entrando loucamente nos supermercados para comprar o que pudesse estocar, porém não vi nenhuma fila em porta de farmácia.
Sem o vai e volta dos veículos, pois foram esses os mais afetados, a ressonância do dia me fez ouvir a melodia do silêncio nesta manhã em que ficou evidente a importância do transporte de carga para a nossa sobrevivência.
As nuvens estacionaram sobre a ilha e não foram ofuscadas pela poluição do trânsito como se um tambor de oxigênio tivesse sido aberto sobre aquele pedacinho de terra perdido no mar.
Refleti que talvez esses momentos de loucura e arroubos coletivos sejam necessários para garantir e assegurar o equilíbrio da natureza e de nossos dias.
Havia um lapso no hoje daquela segunda-feira, uma espera tenaz, uma dissensão das horas cheias de desinformação.
Alguns cruzaram os braços, eu cruzei os dedos e também fiquei na espera, junto com todo mundo, querendo desenhar rotas, cruzar estradas e chegar a algum lugar.
Com o mapa da ilha gravado no meu coração, era o dia ideal para se ir e vir, no entanto não me atrevi e fiquei cá pelo caminho, na beira do cais limitado pelo marzão sem fim que nos rodeia. Não dava de ir sem se importar com o chegar já que o regresso à minha enseada mansa é a bonança da minha pacata existência.
A ilha finalmente relaxou e como não havia tráfego, descansou sua beleza.
A ilha adormeceu em plena luz do dia. Não era feriado nacional nem feriado de aniversário da cidade, mesmo porque, no feriado as pessoas saem de casa para passear, comer fora, ir à praia. Era um recesso involuntário.
Mal acordou naquela segunda-feira, respirou fundo o ar matutino e friozinho de outono, remexeu-se como se pensando o que fazer, bocejou, mas resolveu ficar mais um pouco.
O sol cálido saiu e deu as caras sorrindo, luminoso sob um céu muito azul, olhou para baixo repensando o dia.
Do outro lado do mar os caminhões dormiam também ao longo das estradas. Fazia dias que já não iam a lugar nenhum, enfileirados, pelas beiradas das rodovias, ficaram num descanso forçado e merecido.
Plantada dentro d'água, a ilha permaneceu longe, intocada pela fúria que se alastrou pelos caminhos asfaltados do país inteiro.
Vimos a solidariedade, a ganância a raiva e a revolta aflorando aos poucos, o povo enlouquecendo ante a expectativa de sofrer, por menor que fosse, com os respingos das consequências da paralização maciça daqueles que abastecem nossos carros, geladeiras e despensas.
Na TV não havia outro assunto, noticiavam tudo a todos em tempo real e, a partir daí, o furdunço estava formado. Comunicavam que o combustível acabou, que a comida também estava acabando, que os animais que iriam morrer no futuro para matar a nossa fome, ironia, estavam morrendo por falta de alimento, e que também acabaria os medicamentos.
Vi filas gigantes nos postos de combustíveis, pessoas entrando loucamente nos supermercados para comprar o que pudesse estocar, porém não vi nenhuma fila em porta de farmácia.
Sem o vai e volta dos veículos, pois foram esses os mais afetados, a ressonância do dia me fez ouvir a melodia do silêncio nesta manhã em que ficou evidente a importância do transporte de carga para a nossa sobrevivência.
As nuvens estacionaram sobre a ilha e não foram ofuscadas pela poluição do trânsito como se um tambor de oxigênio tivesse sido aberto sobre aquele pedacinho de terra perdido no mar.
Refleti que talvez esses momentos de loucura e arroubos coletivos sejam necessários para garantir e assegurar o equilíbrio da natureza e de nossos dias.
Havia um lapso no hoje daquela segunda-feira, uma espera tenaz, uma dissensão das horas cheias de desinformação.
Alguns cruzaram os braços, eu cruzei os dedos e também fiquei na espera, junto com todo mundo, querendo desenhar rotas, cruzar estradas e chegar a algum lugar.
Com o mapa da ilha gravado no meu coração, era o dia ideal para se ir e vir, no entanto não me atrevi e fiquei cá pelo caminho, na beira do cais limitado pelo marzão sem fim que nos rodeia. Não dava de ir sem se importar com o chegar já que o regresso à minha enseada mansa é a bonança da minha pacata existência.
A ilha finalmente relaxou e como não havia tráfego, descansou sua beleza.