FRAGMENTOS DE DRUMMOND - PARTE II - Aula no ensino médio

ADMIRÁVEL OBRA POÉTICA... - Expressão despojada, palavras do cotidiano, versos deliberadamente simples, muitas vezes subversão da ordem gramatical eaqui e ali dispensa de pontuação. Tangência com o "poema-piada", em voga pelos modernistas - afinidade intelectual com MÁRIO DE ANDRADE, cartas trocadas ao longo de anos.

CARACTERÍSTICAS DA OBRA

Dentro da vastidão e complexidade da obra poética de CDA, analisando os poemas "Toada do amor" e Confidência do itabirano", já dá para perceber elementos de ironia, visão critica do homem e inquietação diante da vida. Temas frequentes:

1---DESAJUSTAMENTO DO INDIVÍDUO - Tema fundamental drummondiano - um ser marginalizado, desajustado, deslocado no tempo - "Quando nasci, um anjo torto / desses que vivem na sombra / disse: Vai, Carlos, vai ser gauche (francês, significa esquerda) na vida." Virar à esquerda de alguma coisa é estar à margem dela, à esquerda em relação aos acontecimentos, marginalização que leva o indivíduo ao isolamento:

INFÂNCIA - "Meu pai montava a cavalo, ia para o campo, (...) Eu (...) lia a história de Robinson Crusoé (...) E eu não sabia que minha história / era mais bonita que a de Robinson Crusoé." ----- RC, publicado em 1719 - personagem de um romance de DANIEL DEFOE, único sobrevivente de um naufrágio - conseguiu viver cerca de 28 anos numa ilha deserta. Em plena maturidade da vida e da obra, a própria infância ressurge como tema em "Boitempo", personagens reminiscentes de sua meninice em Itabira.

2---MONOTONIA DA VIDA - Aparece com frequência quando o poeta retrata o cotidiano, a vida no campo e as relações amorosas:

CIDADEZINHA QUALQUER - "Casa entre bananeiras / mulheres entre laranjeiras (...) Eta vida besta, meu Deus." ----- Vida numa pequena cidade mineira.

QUADRILHA -"João amava Teresa que amava Raimundo (...) que não tinha entrado na história."

3---NOSTALGIA DO PASSADO - E a vida em Itabira... temas comuns em CDA, tentativa de reencontrar seu próprio passado:

CONFIDÊNCIA DO ITABIRANO - "Alguns anos vivi em itabira. Principalmente nasci em Itabita. (...) Itabira é apenas uma fotografia na parede. / Mas como dói!" ----- Itabira, terra natal, tranquila e monótona cidade interiorana, região de minérios, mas berço de que herdou a tristeza, o orgulho, a vontade de amar e o hábito de sofrer; mudança na vida profissional onde afirma que "Hoje sou funcionário público." Causa da dor é Itabira só existir em sua lembrança e numa fotografia na parede.

4---OBSTÁCULOS QUE A VIDA OFERECE - Entre outro. um poema que, na época, despertou grande polêmica no meio literário:

NO MEIO DO CAMINHO - "No meio do caminho tinha uma pedra (...) no meio do caminho tinha uma pedra." ----- Repetições e redundância semântica: recurso poético.

/// Até aqui, poemas retratados principalmente nas primeiras obras - "Alguma poesia" e "Brejo das Almas" (nome de um lugarejo do interior mineiro). ///

5---PREOCUPAÇÃO SÓCIO-POLÍTICA - Com a eclosão da Guerra Civil Espanhola, da II GM e da ascenção do nazi-fascismo, maior preocupação com a realidade sócio-política, numa visão de mundo fragmentado, caótico, temática constante nas obras "Sentimento do mundo" (inserção do poeta no mundo em que vive e solidariedade com o sofrimento de seus semelhantes) e "Rosa do povo" (mais temas sociais e populares) - nestes livros , o ponto máximo de sua obra, em favor dos grandes injustiçados sociais:

MÃOS DADAS - "Não serei o poeta de um mundo caduco. (...) O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente."

A NOITE DISSOLVE OS HOMENS - "A Portinari --- A noite desceu. Que noite! (...) E o amor não abre caminho / na noite. (...) A noite anoiteceu tudo." ----- 1940, ainda fase inicial da II GM (quanto tempo iria durar?), luta contra regimes totalitários de direita (nazistas-fascistas) - poema dedicado a Cândido Portinari (1903/1962), que sempre lutou contra os totalitarismos, obra coerente com os ideais por ele defendidos.

6---ANGÚSTIA DIANTE DA MORTE

MORTE NO AVIÃO - "Acordo para a morte. / Barbeio-me, visto-me, calço-me. (...) Pela última vez miro a cidade. (...) caio verticalmente e me transformo em notícia." ----- Morte sob a forma prosódica de imaginária viagem de avião - atos comuns em pressentimento ao longo do dia?

7---e, para encerrar, FALTA DE PERSPECTIVA DO HOMEM

JOSÉ? - "E agora, José? / A festa acabou, a luz apagou, (...) Sozinho no escuro, / qual bicho-do-mato, (...) Mas você não morre, você é duro,, José. (...) José, para onde?" ----- José - um frustrado, um solitário, alguém sem objetivo e desesperançado... -- "duro", extremo da possibilidade sugerida como mudança de destino -- "para onde?" - sem norte, sem rumo -- Poeta deseja figuradamente intensificar o sentimento de abandono, tornando-o um sofrimento físico.

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Leiam meus trabalhos "E agora, Drummond?" e "Voltando a Drummond".

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 31/05/2018
Código do texto: T6351879
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