CONHECENDO SANTOS-SP, UMA CIDADE ESPECIAL

CONHECENDO SANTOS

Na época que minha família morava no Forte Itaipú, Praia Grande, visitar São Vicente era um acontecimento. Santos era uma longínqua cidade grande que raramente ouvíamos falar. Meu pai pescava nas horas de folga e era bem requisitado pelos pescadores que vinham ao forte. Tornou-se uma referência, e serviu de guia para muita gente. O Dr. Derosse, eminente advogado santista e hoje nome de escola, era um grande amigo da família. Companheiro de pesca de meu pai, Derosse tinha um belo carro cupê bordô, de marca Nash. Cupê é um tipo de carro de duas portas com a cabine mais curva que o sedan e o vidro traseiro quase na vertical. A Nash Motors chegou a ser a quarta fabricante de automóveis dos Estados Unidos, mas hoje não existe mais. As visitas do Derosse eram muito alegres. Sempre sorridente, agitava a casa toda, descia do carro gritando para minha avó “- Dona Nenê e as buratas? Cadê as buratas?”. Todos davam muita risada. Ele entrava em casa, conversava com meu pai e meu avô, tomava um cafezinho feito na hora, me fazia cócegas e saia. Lembro certa ocasião que Dr. Derosse chegou e eu estava envolto em uma toalha, recém-saído do banho, no colo de minha mãe. Derosse me fez tantas cócegas, provocando aquelas explosões de risos que só as crianças conseguem dar. Despedia-se, entrava em seu belo carro, sempre esbajando alegria de viver, voltava para Santos. O assunto sempre eram as pescarias que faziam juntos. Dr. Derosse foi padrinho de crisma de meu irmão. Lembro com saudades de seu sorriso largo, da elegância no vestir, de sua alegria contagiante. Foi meu primeiro modelo de um santista. Desenvolto, esclarecido, até hoje Dr. Derosse é lembrado com saudades por muitos como um ícone da cidade.

Uma grande amiga de minha mãe, dona Nair, morava na Rua Campos Mello, em Santos e, uma vez por mês a gente viajava desde a Praia Grande, então distrito de São Vicente, para visita e, passávamos o dia, geralmente domingo, na casa desse pessoal. Outras ocasiões a família de Dona Nair ia ao Forte nos visitar. Eles tinham uma filha chamada Yara que era minha grande companheira de brincadeiras infantis. Para mim eram oportunidades mágicas. As pessoas moravam em casarões com quintais. Lembro que, talvez pelo fato de viver em uma espécie de condomínio fechado sem limitações físicas, muros eram novidades para mim. Yara, uns vinte anos depois foi fazer Medicina em Portugal com um grande amigo, Marcino Ferreira Filho, que nadava no Internacional. Dizem que surgiu uma grande paixão entre os dois. Depois de formado, Marcino retornou ao Brasil, foi médico em Cubatão, e faleceu muito jovem. Yara parece que ficou em Portugal e fez carreira por lá. O que aconteceu não se sabe ao certo.

Essas viagens a Santos eram fantásticas para o meu imaginário infantil. Ana Costa, Conselheiro Nébias, Campos Mello, Gonzaga, Boqueirão, Ponta da Praia se tornaram nomes mágicos. Eu ainda não falava corretamente, devia ter uns dois anos, e chamava de “Meu colégio São Jojé” ao passar na frente do São José. Visitas ao Aquário, montar nas estátuas dos leões do Gonzaga, parquinhos de diversão, olhar as palmeiras imperiais da Ana Costa, passear no Jardim da Praia, experiências que me deixavam extasiado e até hoje me trazem doces recordações. Quem foi criança em Santos sabe o que é isso.

Vicentino de coração, acabei sendo “sugado” por essa cidade acolhedora. Estudei no Colégio Canadá, nadei no Internacional, cursei engenharia em Curitiba, andei por todo o Brasil morando e fazendo grandes obras. Tenho grandes amigos por todos os lugares que passei. Em momento algum sequer imaginei fixar residência em outro canto. Louvada seja Santos, lhe sou eternamente grato.

Paulo Miorim 31/05/2018-Corpus Christi

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 31/05/2018
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