A banda podre da rua
Assim, por uma espécie de conveniência, as coisas não muito agradáveis sempre acontecem do outro lado onde, evidentemente, queremos que elas aconteçam e nos passem ao largo, nos deixem em paz. E, nesses lugares, tem-se a nítida impressão que, no ar rarefeito, moscas ensaiam voos velados e o tempo nem passa como se preparasse tecendo o desfecho do arrevesso, do conturbado; o perturbado.
A rua era sem saída – não que necessariamente o projeto urbano a delineasse assim, mas conceitualmente era assim, “wrong way” - e meninos destrambelhados cheiravam cola vencida, farinha láctea reciclada e, vai que bobeando, meias puídas deterioradas. Havia o meio fio onde a água espumosa – gordurosa - corria solta e o cão rasgava pra soltar o represado; a controlar a natureza, dedos meninos cruzados.
A padaria da esquina, vazia – cheiro de coisas sujas – tinha nome real “Rainha Boreal” (o brasileiro adora monarquias desde que, claro, ele seja o rei). Para Dostoiéviski esse Homem universal é vasto e, nesta vastidão, em seu coração, digladiam-se o bem e o mal.
Ora o Homem!
Ora o homem, pede suplica, implora, aguarda. Há nesse eterno esperar uma indelicada poesia como se ainda fosse razoável estruturar essa improvável renascença.