Dois mundos.

             Duas realidades paralelas, linhas que não se encontram mas se vêem e se conhecem, dois mundos distintos, duas realidades eternas.
             Os escravos da senzala e a casa grande, quando à noite cai  cada um descansa em seu canto, de lençois de seda ou de palha seca . Amores sem pudor sob o canto doído do açoite, ou as taças tocadas frente à lareira.
             O casamento real em Buckingham , carruagem desfilando pela avenida, tropas separando a multidão que se agrupa na calçada, súditos recebendo o aceno do príncipe. Milhares de fotógrafos se acotovelando na cobertura para fazer a melhor postagem, enquanto outras vidas lutam pela sobrevivência, as mesmas que param por um instante para ver a outra linha, a paralela.
             No governo ocorre o mesmo, penso eu (?), vivem outro mundo que não o nosso, simples habitantes, pagadores de taxas intermináveis, por vezes injustas. Não olham para os lados, até nos veem mas não nos ouvem, imagens difusas , que estão em todas as partes, como formigas, " O que os olhos não veem , o coração não sente", nenhum deles saiu para pegar fila nos postos de gasolina, nem almoçou arroz com ovo na marmita.
               Essa coisa de "sangue azul", me fez recordar do "Repolho", um velho amigo de trabalho dos anos setenta, um espanhol baixinho e rechonchudo, de " La Mancha" , híper engraçado, o falso rabugento, todos riam muito com ele.  Já era cinquentão, e como havia perdido três dedos nas máquinas, o usavam como "contínuo" até que pudesse cumprir o seu tempo. Era muito querido por todos, e lhe perguntavam; " Repolho, é verdade que você tem sangue azul ?" - E ele respondia sério, em alto e bom som ; " Si, la tengo...en los cojones !" .
               Assim é, também imagino que nesta linha das paralelas, ser "plebeu" ( digamos assim), apesar das desventuras, é muito mais divertido, por mais paradoxal que possa parecer.  Pode se amar e ser amado sem um "paparacci" por perto, dizer o que bem entender sem ser assunto da semana, rir , dançar, chorar até, sem ser questionado. Não precisar mostrar as aparências, até porque só se tem uma !
 
               A escolha das paralelas foram propositais : o patrão e seus escravos, o rei e seus súditos e o governo e seu povo.

              

                Nota ; Publicação de número 700, por isso escolhi o tema, por considerar atual e questionador. Agradeço aos amigos pelas visitas nesse tempo todo, são quatro anos que nem vi passar, que sorte a minha !
                 
            
             
            

 
Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 30/05/2018
Reeditado em 30/05/2018
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