No e-mail, um pedido

     1. Recebi de uma querida amiga um e-mail me pedindo um crônica sobre o poeta cearense Patativa do Assaré. Ela é do Ceará mas mora, há mais de dez anos, na Suíça.
     2. No seu longo e carinhoso e-mail, ela diz que sente uma saudade danada de sua cidade, o Juazeiro do Norte. Romeira do Padre Cícero Romão Batista, chama de "santo" o velho cura; e que continua aguardando a sua canonização; ou pelo menos sua beatificação.
     3. Diz que "ama" o sertão nordestino e que dele se lembra todos os dias. Mais ainda quando os termômetros suíços acusam temperaturas abaixo de zero, preferindo os trinta ou mais graus do seu distante cariri.
     4. Prova que é fã do Patativa transcrevendo estes versos do famoso vate cabe-chata: "No rompê de tua orora/ Meu sertão do Ciará/ Quando escuto a voz sonora/ Do saudoso sabiá/ Do canário e do campina/ Sinto das graças divina/ O seu intenso pudê/ E com muita razão vejo/ Que a gente ser sertanejo/ É um dos maió prazê".
     5. O e-mail da dileta amiga - não a vejo, faz um tempão -  me levou de volta à poesia matuta do Patativa. Procurei, nos inúmeros livro que tenho do vate do cariri, um poema que matasse a saudade de Helena, morando na linda Genebra, a cidade do chafariz gigante, que um dia conheci.      6. Aconteceu que Patativa dividia, no Hospital São Francisco de Assis, a enfermaria com outros companheiros. Uma alteração, para pior, na alimentação servida aos doentes provocou um contudente protesto dos pacientes. 
     7. O protesto fez Patativa prometer levar o que ocorrera ao Poverello, denunciando e pedindo socorro. E fê-lo em versos. 
     8. "Meu São Francisco de Assis/ Meu santo meu bom amigo!/ Qual foi o mal que lhe fiz/ Pra me dar tanto castigo/ Seu amor nunca se apaga/ É venerado o seu nome/ Se tiver comida traga/ Que tô danado de fome.  ==  O senhor foi penitente/ Padeceu tanta amargura/ E hoje trata o seu doente/ Com farofa sem gordura?  ==  Depois nos manda uma janta/ De coisa desconhecida/ Meu santo! Isso não adianta/ Tenha dó de nossa vida.
     E achando que ainda não chega/ A nossa grande aflição/ Tirou também a manteiga/ Que tinha no nosso pão.  ==  Eu preciso ser feliz/ E o senhor de mim se esquece?/ Meu São Francisco de Assis/ Tenha dó de quem padece". Fiz-lhe ver a minha incondicional devoção por Francisco, o pobrezinho.
     9.  Passaram-se dias, até que minha amiga, em outro delicado e-mail, agradecesse o poema que lhe enviara para matar sua saudade do poeta de "Triste partida".
     10. Um poema falando de um santo que, como o Padre Cícero do Juazeiro, tem uma ruma de devotos em todo o Ceará: São Francisco de Canindé, que é o mesmo de Assis.      
     11. Helena ficou alegre! E prometeu me procurar na sua próxima visita ao Brasil. Garantindo que me levará ao seu Juazeiro para uma oração aos pés do Padim Ciço, um dia, o primeiro santo do nosso Ceará, meu e dela. 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 29/05/2018
Reeditado em 29/05/2018
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