Ninguém nasceu e andou

Conforme foi ganhando meses de vida, íamos colocando nosso pequeno no chão cada vez mais. Ele se sentava e ficava a nos encarar enquanto nos afastávamos. Conforme nossa distância, seus olhos se diminuíam, o rosto avermelhava-se em choro. Eu corria de volta, sentava-me a seu lado e coçava suas costas... Logo ele parava e eu sorria.

Mas eu estava preocupado, já fazia meses que nascera e nem engatinhava. Eu reclamava à minha esposa e ela calmamente me pedia calma. Um dia ele engatinhou! Ufa, essa criança é criança! Que alívio! Comemorei com chopp. Minha esposa ria-se de mim a cada vez que eu, repetindo o que antes tentara, colocava meu pequeno no chão e saía, sabendo que ele viria atrás de mim.

Um dia ele pôs suas duas mãozinhas no sofá e se ergueu. O vi gigante. Suas perninhas trêmulas o deixavam cambaleante pra cá, cambaleoso pra lá, e certeiro em vir na minha direção. Eu era somente um enorme sorriso. Foi então que minha esposa se achegou a mim, com toda calma que ora havia me pedido e sussurrou: Ninguém nasceu e andou. Nascemos e aprendemos a andar. Percebi naquele instante que além de ter cobrado demais meu menino, era eu quem estava começando a engatinhar.

Crônicas de um Ignorante
Enviado por Crônicas de um Ignorante em 29/05/2018
Reeditado em 13/01/2019
Código do texto: T6349547
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