DESABASTECIMENTO E OUTRAS MISÉRIAS

Um grupo de homens sai pela manhã para caçar levando consigo os adolescentes do sexo masculino. As mulheres ficavam na tribo, cuidando dos novinhos. A caça podia ou não ser bem sucedida. Não dependiam do caminho que depende de um caminhoneiro.

Mas o medo era real nos homens. Encontravam feras nas selvas e outros perigos em suas empreitadas. O medo também ficava no pensamento das mulheres.

O medo de não ter o que comer, o que beber e satisfazer suas necessidades é um companheiro constante do homem. É preciso abastecer-se de tudo que precisa. É preciso de saúde para poder desfrutar o alimento no seu aspecto mais saboroso. O homem já comeu para demonstrar poder, para saborear a arte da culinária e, sobretudo, para se nutrir.

E, quanto mais avançamos na sociedade capitalista/consumista, mais fácil ficou abastecer-se. Bata pega o celular, achar o aplicativo e pedir a pizza, o x-bacon, a marmita, e outras coisas.

Quantas pizzas e lanches são entregues em uma noite de qualquer dia da semana? E quantos litros de gasolina são gastos em motos? E não é que em tempos de greve de caminhoneiro, tem até cavalo entregando.

Mas tem um ente maior que não aceita ser desabastecido. É o tal do mercado. Oh bicho feroz. É preciso manter o mercado sossegado, por isso aumentamos o preço dos meios para que a caça chegue em nossas casas.

A distopia dos dias de hoje é mais cruel que os tempos pré-históricos. Lembra cenas do filme Mad Max a solidão do homem diante da ausência total do Estado. Roubo de combustível e a escolta ao pouco que ainda resta.

Lá no passado, bem no passado, o combustível era o instinto de sobrevivência do homem. Era essa vontade de conquistar um dia a mais na sua curta vida que o fazia sair atrás do animal a ser acuado e morto, agora é o petróleo, nossa matriz energética, que faz com que tudo chegue a minha casa. E quando não há mercadoria se movendo sobre as rodas, que o homem descobriu a bem tempo, movido pelas faíscas liberadas pela queima do combustível que faz o motor movimentar, fogo é outra descoberta do homem, surge o desabastecimento. E aí falta de tudo, do necessário ao supérfluo, do emergencial como os insumos de saúde como a ração para os bichos que já não caçamos mais, a não ser nos nossos aplicativos de celular, e quanto no muito, nas gôndolas de supermercados.

Lá no passado, o homem dependia da sorte e do trabalho em conjunto da sociedade totalmente tribal. Aqui dependemos da mão invisível e desse ente que nós criamos, chamado Mercado, para termos o abastecimento de nossas necessidades, que vão muito além de simplesmente suprir o corpo de nutrientes básicos como proteínas, vitaminas, sais, lipídios e carboidratos. O medo de desabastecimento é apenas uma das nossas misérias.

28/05/2018

Cláudio Antonio Mendes
Enviado por Cláudio Antonio Mendes em 28/05/2018
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