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O McFlurry do McDonald’s, o Jordan, e o Oumar, que não reclamou com o bispo 


O Juan entrega comida do McDonald’s na casa das pessoas via Uber. Naquela manhã chuvosa, ele pegou um McFlurry e viu que tinha de entregar para o Jordan, que vivia a mais de 15 quilômetros de distância. Corrida boa, mas achou que esse tal de Jordan não iria dar gorjeta. Intuição. Enquanto dirigia, Juan fazia as contas na cabeça. Ele ia ganhar uns 8 dólares e o Jordan ia pagar uns 11, mais o custo do McFlurry, ou seja, 12.79. Que absurdo, suspirou. Quase 13 dólares para ingerir um monte de açúcar, colesterol, e, pior, aquele sabor enjoativo de vanila. Existe cada um...
Quando teminou o dia, Juan viu as contas e percebeu que o desgraçado do Jordan não tinha dado gorjeta mesmo. Também, quem espera gorjeta de alguém que gasta uma grana daquelas com um McFlurry? Jurou para si mesmo que jamais colocaria uma coisa daquelas em sua boca.
Começou a ler o jornal no computador e viu uma notícia pungente. Milhões de seres humanos vivem com menos de um dólar por dia. Triste, Juan resolveu dormir um  pouco. E sonhou.
Viu um rapaz chamado Oumar, magro, suando ao quebrar pedras com uma marreta. Ele era de Mali. De um lado havia um poste com sebo e uma nota de um dólar no topo. Do outro, outro pau ensebado com um copo de McFlurry lá em cima. Coisa estranha. Que injustiça, Juan pensou em seu sonho. Pelo menos, suspirou, um dólar em Mali pode comprar mais coisas do que nos EUA.  Mas era ttriste e não havia nada que se pudesse fazer. Se Juan fosse do Brasil, poderia ouvir aquela frase comum – pelo menos antigamente - para essas situações: “Não é justo? Vai reclamar com o bispo!” O que ele pensou, na verdade, que aquilo era uma coisa que, só por Deus! E quem melhor que o papa para falar com Deus? Especialmente o papa atual!
Sabia, no entanto, que isso também não seria possível! Quem consegue falar com o papa? O fato é que as coisas iriam continuar do jeito que estavam. O Jordan iria continuar comprando seu McFlurry lá longe, do McDonald’s, a cadeia de fast food iria continuar crescendo e o Oumar iria continuar na mesma. Quer dizer, depende... Havia uma boa chance de ele perder seu precioso emprego de um dólar por dia a qualquer momento. Lá não existe carteira assinada, nem direitos trabalhistas.
Ai, ai... coitado do Oumar, que nem tem um bispo com quem possa reclamar!

 
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Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 26/05/2018
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