Boa noite, linda nova lua cheia

Não era tarde ainda quando enfunamos as velas do barco, lançamos um grito de guerra amistoso ao mar, içamos o ferro e partimos.

O mar estava calmo, as vagas sóbrias, o terral leve. Íamos devagar, singrando suavemente as plácidas águas de Batista das Neves.

Ao longe se vê a Ilha Grande e nos seus bordos, outras ilhas. À nossa popa, ainda aparece no horizonte o Velho Barco, nosso Colégio Naval querido e inesquecível, embalado pelo calor humano da mocidade que ele prepara para a Marinha. A pequena tripulação, marinheiros de primeira viagem, no barco, sonham com a vida; alguns pensam em suas namoradas, outros apenas ouvindo uma música agradável no rádio. No leme, há um marujo de serviço, atento...

Enquanto o barco navegaa, a tarde suavemente morre e o Sol foge. O céu todo incendeia-se, clareia-se, fulgura-se sob os últimos raios que conseguem atravessar o céu cristalino, bordado de nuvens coloridas. Aquelas nuvens multicores dão àquela paisagem um quê pitoresco que nos leva a meditar, a sonhar, a se fundir com a natureza.

Naquela quase noite, já no meio de ondas arredias, o mar vai se abrindo para a passagem do nosso barco Guanabara... O vento assobia na sua passagem pelos estais das velas. Aparentemente sós estamos nós, o mar, a noite que chega. O Sol declina no horizonte cada vez mais e o barco avança destemido pela mar noite adentro.

Já agora, a noite é quem reina. Vamos ranchar. Alguém senta-se no paineiro, cruza as pernas, pega o fogareiro Jacaré e prepara a refeição para todos; quatro refeições simples. Coisa de marinheiro: ovos fritos, salsichas, queijo de coalho, manteiga, pão... Farnel marinheiro para três dias. Tudo comemos. É uma pausa para o descanso... Mas a nave não para seguindo em frente: corta as águas, imponente, altiva...

Fim de rancho: os escalados para lavar os pratos e talheres se lançam nessa árdua faina doméstica...

Depois vem um cafezinho, pensa-se na mulher amada e navega-se...

Eis que, de repente, um clarão no horizonte se faz: uma bola fantástica de fogo. Sublime luz, no horizonte pintado em branco e preto, imensa, aparece no céu, nascendo das trevas da noite. É a nova lua cheia que vem, linda, suave, sedutora, carinhosa incendiando a noite... Detenho-me a admirá-la: ela sobe as escadas do céu mansa e lentamente... As estrelas prestam-lhe homenagens... Sussurrando, a seu tempo, o boa noite linda nova lua cheia.

Navegamos. Com o pálio negro da noite a nos cobrir de lua, navegamos...

Navegamos... Navegamos. O pessoal do leme, da navegação, atentos, pilotam o barco.

Enfim, resolvemos procurar um ancoradouro para o pernoite. Após minuciosa escolha na carta do melhor local fomos para a Praia das Araras. Ali reconhecemos o lugar e fundeamos.

No barco, velas recolhidas, ferro lançado, já é noite alta. Deitado sobre a cabine do barco, olho a lua, no ângulo do mastro. Sopra um vento fresco. A noite é clara, o céu muito estrelado. As ondas quebram logo ali, na praia, a cem metros de nosso barco. A claridade da areia na praia refletindo a luz da lua cheia é fascinante...

É noite...

A natureza dorme...

Penso em você...

Minha noite terminou...

Boa noite, linda nova lua cheia

Dormem... Durmo...