O PODER DO NOME DE dEUS(ES)
Hoje, no Brasil, temos todos os ingredientes
para uma nova onda de atrocidades...tudo em nome de deus ou de deuses.
Claudinho Chandelli
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Sempre foi assim. Eu creio que sempre será: sempre que se chega a uma situação crítica, o apelo do povo (como num estado de histeria coletiva) tende a ser um só: o divino, o sobrenatural, o transcendente, o eterno, deus.
A história da relação do humano com o divino se confunde com a história da própria existência daquele – tanto que é retórica a pergunta nos círculos acadêmicos sobre quem, afinal, criou quem: Deus (ou deuses) criou o homem (e sob quais justificativas?) ou o homem (para justificar suas maldades, como chega a suspeitar Ribamar Pereira) foi quem criou – e continua a criar – deuses?
Desde os tempos mais remotos – quer na mitologia grega quer no politeísmo panteísta mesopotâmico, no antigo Egito, em Babilônia ou no monoteísmo judaico-cristão ou islâmico –, quando parece não haver mais saída, e as crises (econômica, ambiental, social, moral...) parecem conspirar contra tudo e todos, eles sempre são chamados a entrar em ação.
Foi assim, por exemplo, em toda a história do povo hebreu, posteriormente judeu; e continua no moderno Israel – basta ver a justificativa no discurso do primeiro ministro israelense, Benjamin Netanyahu, sobre a que povo pertence Jerusalém, no atual episódio do reconhecimento da Cidade Sagrada pelos Estados Unidos como capital de Israel.
Foi assim nas homéricas lutas entre mouros e cristãos pela conquista do que sobrara de Jerusalém, anos após a grande diáspora dos judeus provocada pelo poderosíssimo Império Romano.
Foi assim durante o [até agora] maior e mais sangrento cisma entre cristãos: a Contrarreforma Católica, também conhecida como Santa Inquisição.
O nome do Soberano do Universo (como os cristãos consideramos) foi invocado também, não poucas vezes, para coroar reis absolutistas e abençoar ditadores, quer civil quer militares. Quem não lembra, por exemplo, da emblemática inauguração da estátua do Cristo Redentor e a outorga de Jesus como o Protetor do Brasil, feitas por Getúlio Vargas em troca do apoio da cristandade ao seu governo ditatorial?
Fato semelhante viria a ocorrer em 1964, com as empolgantes e enormes Marchas da Família com Deus em apoio à intervenção militar. E, em 1980, como último gesto de gratidão dos ditadores pelo apoio dos católicos no início da ditadura, Figueiredo sanciona o dia 12 de outubro como “feriado nacional para culto público e oficial” (Lei 6.802-junho/1980) em homenagem a Nossa Senhora Aparecida (Padroeira do Brasil), desprezando totalmente o ideário alimentado desde os primórdios do republicanismo de um país democrático e laico – ou seja, sem credo oficial ou patrocínio do Estado a qualquer crença ou denominação religiosa.
O que era perfeitamente previsível, volta a acontecer. Hoje, no Brasil, temos todos os ingredientes (crises em todos os setores da sociedade, dogmatismo e populismo em alta e cientificismo em baixa, fanatismos e oportunistas de plantão, tanto no campo político quanto no religioso – todos se apresentando como salvadores da Pátria Amada) para uma nova onda de atrocidades...tudo em nome de deus ou de deuses.
Não por acaso, o slogan adotado pelo pré-candidato ultranacionalista e ultradireitista, que diz, entre outras pérolas, que usou dinheiro público “pra comer gente”, é: “Brasil acima de tudo; Deus acima de todos!”
E mais: ele é o preferido de grande parte, senão da maioria, da juventude (que o chama de mito), tem o apoio declarado e incondicional de vários líderes religiosos influentes – um deles afirma que 80% dos votos de seu rebanho é dele – e de grande parte da famosa bancada evangélica, que tem fortes bases em todos os mais de cinco mil municípios do Brasil.
De fato, o nome de Deus pode tudo mesmo, inclusive servir para, em poder daqueles que assim o queiram, justificar as maiores atrocidades contra as próprias criaturas dEle.
Deixa eu parar com essa resenha, antes que acabe tentado a concluir que o poder de Deus ou dos deuses, segundo muitos dos que se apresentam como seus representantes e seguidores, parece ser maior para produzir maldades do que para promover o bem.
Credo!
Xô! Arreda daqui!
Sai pra lá, Satanás!