Como era o Flaviano?
Mineiro típico de porte médio, fala mansa carregada de introversão produzida pelos filhos do regime militar que agonizava. Engraçado, jogador de truco, afeito à família e aos bem feitos trabalhos de carpintaria. Gestual lento e mente ágil, capaz de contar uma piada que viesse a provocar risos horas depois.
Flaviano era motorista de uma empresa de reflorestamento e não era um dos melhores volantes do grupo, era mediano no seu papel principal. Mas, era um bom companheiro. Durante as noites, ficávamos horas nas casas das fazendas de reflorestamento do noroeste de Minas, jogando baralho e esperando o sono aportar.
Era um personagem de fato. Atarracado e de passos curtos, no ritmo da necessidade que a vida lhe ensinou, usava sua educação não formal para se esquivar das armadilhas traiçoeiras das estradas, das piadinhas capciosas dos demais colegas e da “precisão de levar uns trem pra casa”.
A sexta-feira era realmente o dia santo naqueles tempos difíceis de itinerâncias. Era o dia da volta para as famílias, depois de uma semana nas florestas de eucaliptos. Especialmente aí, Flaviano se transformava! Caminhava rápido pelos pomares e hortas, cantarolava enquanto escolhia e guardava, em sacos de linhagem; verduras, legumes, raízes e frutas para presentear a família. Nesses dias tive contato com as pessoas dele. Antes de me levar em casa e entregar o carro na empresa, deixava os presentes com a esposa e os dois filhos pequenos. Vi o guarda roupa, a tampa da cisterna e o portão de madeira maciça, que eram, repetidamente, apresentados por ele como obras primas, vi o olhar ensolarado de emoção com o qual cobria a sua gente.
Passou o tempo e sai da empresa. Continuei ainda lá pelas bandas de Minas Gerais, trabalhando em outra atividade industrial.
Em um dia, carregado de pó de cimento como todos os outros, durante o almoço, foi a última vez que vi o Flaviano.
Ele estava estático, o rosto preso, chapado em um papel de jornal, o olhar nublado, foto de carteira de identidade, sem pronunciar piadas, sem a magia do jogo de truco. Tinha uma página inteira falando sobre ele. Um texto bizarro, no qual não conseguia associar uma palavra sequer ao meu antigo companheiro de viagens: - Motorista mata mulher e filhos, a golpes de faca, e suicida-se se jogando na cisterna.
Era um personagem de fato. Atarracado e de passos curtos, no ritmo da necessidade que a vida lhe ensinou, usava sua educação não formal para se esquivar das armadilhas traiçoeiras das estradas, das piadinhas capciosas dos demais colegas e da “precisão de levar uns trem pra casa”.
A sexta-feira era realmente o dia santo naqueles tempos difíceis de itinerâncias. Era o dia da volta para as famílias, depois de uma semana nas florestas de eucaliptos. Especialmente aí, Flaviano se transformava! Caminhava rápido pelos pomares e hortas, cantarolava enquanto escolhia e guardava, em sacos de linhagem; verduras, legumes, raízes e frutas para presentear a família. Nesses dias tive contato com as pessoas dele. Antes de me levar em casa e entregar o carro na empresa, deixava os presentes com a esposa e os dois filhos pequenos. Vi o guarda roupa, a tampa da cisterna e o portão de madeira maciça, que eram, repetidamente, apresentados por ele como obras primas, vi o olhar ensolarado de emoção com o qual cobria a sua gente.
Passou o tempo e sai da empresa. Continuei ainda lá pelas bandas de Minas Gerais, trabalhando em outra atividade industrial.
Em um dia, carregado de pó de cimento como todos os outros, durante o almoço, foi a última vez que vi o Flaviano.
Ele estava estático, o rosto preso, chapado em um papel de jornal, o olhar nublado, foto de carteira de identidade, sem pronunciar piadas, sem a magia do jogo de truco. Tinha uma página inteira falando sobre ele. Um texto bizarro, no qual não conseguia associar uma palavra sequer ao meu antigo companheiro de viagens: - Motorista mata mulher e filhos, a golpes de faca, e suicida-se se jogando na cisterna.