Amo, logo, existo!
Você estabeleceu novos parâmetros para os meus sonhos, o real limite entre o querer para mim e o ter para mim, porque me fez perceber o que tenho além dos limites das posses, além da escravidão do “real”.
Justamente porque aconteceu no momento errado, tudo em nossa vida aconteceu no momento errado. Mas no momento que tinha que ser, da real forma que precisava ser. Você é a personagem de uma história fantástica. Talvez sem final, e, com um início não bem estabelecido.
Em uma espécie de estilo cinematográfico em que o poema toma a total forma dos sentimentos com estrofes vagas e versos pouco delimitados.
Essa noite eu sonhei com você, e foi como se eu sonhasse com todos os meus amores. Porque realmente foi desse jeito. Do exato jeito que era pra ser. Por isso, que te digo, meu amor, sem platonismos ou distorções, o amor é realmente maior que um laço puramente físico e animal.
É aquilo que sobrevive no âmago e nos alimenta o ser, é o que temos quando não resta mais carne, é tudo o que levamos para o “além-túmulo”. É o que define o nosso sopro de vida e até mesmo, talvez, toda a sua razão.
É quem define tudo em nossa vida, relacionamentos, profissão, amigos, inimigos, missão, traumas, religião, filosofia, até o próprio pensamento, pois quem pensa imagina o que ama, ou o que odeia, ou seja, o que vislumbra com ausência total do amor. Mas, somente porque amaria o seu oposto.
O que vai além disso, estou quase certo de que quem odeia, deseja pertencer ao seu oposto. Quem odeia a guerra ama a paz, quem odeia a fome ama a fartura, quem odeia os abismos sociais, ama a igualdade, quem odeia a ignorância ama o conhecimento, quem odeia a tristeza ama a felicidade. Enfim, tudo o que se discute no mundo é matéria de amor, sem necessidade de citações acadêmicas.
Penso que o amor seja pouco estudado em matéria de filosofia, muitas vezes até estimulam sua abstinência. Um elemento tão importante, e que se contrariado, matematicamente, o resultado é negativo, é como se fosse o “menos um” que se multiplica na equação para equilibrá-la.
Talvez fosse presunção da minha parte, redefinir o cerne da existência, mas nestas linhas não defendo teses e não preciso recorrer a Descartes. Nunca quis recorrer a Descartes. Não se deve discursar sobre método de nada.
Quem quer que seja criador de tudo isso não estabeleceu métodos que estejam além da coerência básica da vida. Tão coeso quanto o fato de nada existir na vida sem que haja amor, a menos que se negue a criação e se prefira crer que sejamos uma simples evolução de bactérias sem nenhum rumo anterior ou posterior e que todas as nossas emoções sejam meramente encadeamentos de processos químicos bem determinados.
Não falo do corpo, e sim, da alma, pois o que é matéria é irreal.
Sendo assim, penso: Amo, logo, existo! Por isso, hoje amanheci mais feliz!
Graciliano Tolentino – 17 de abril de 2015