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O DIÁRIO DE UM VAGABUNDO
Naquela manhã quando cheguei até o fundo da padaria onde normalmente tinha vários companheiros disputando os pães e doces amanhecidos que o padeiro nos dava, surpreendi-me ao notar que naquele dia eu era o único pedinte.O DIÁRIO DE UM VAGABUNDO
Que teria acontecido?
O próprio padeiro satisfez a minha curiosidade:
– Uai seu vagabundo, perdeu a viagem?
— Como assim, que viagem é essa que não estou sabendo?
— O prefeito mandou enfiar todos os moradores de rua em um ônibus e despachou-os para outra cidade onde disse ter trabalho para eles.
Fiquei ao mesmo tempo feliz por ter ficado só na distribuição de comes, mas chateado por não ter mais a companhia de meus amigos.
A gente se desentendia toda hora, brigava por uma fruta encontrada no lixo ou um cobertor velho que alguém jogou fora, mas éramos companheiros, tínhamos as mesmas queixas, os mesmos vícios, sofríamos a mesma dureza da vida ao ar livre.
Agora eu estava só, não tinha com quem conversar nem com quem brigar e a minha solidão que já era enorme tornou-se maior ainda.
Mas, como já disse várias vezes, sou tinhoso, tenho a capacidade de sobreviver a tudo e ir arrastando minha vida por ai até quando Deus quiser.
Será que no outro mundo eu serei ainda o pária que sou neste, miserável, ignorante, bebum?
Acho que não, pois Deus me vê com outros olhos e sabe que não sou assim porque quero e sim porque a vida me levou a isso, porque não consegui encontrar outro caminho.
Mas, eu estava falando de minha solidão agora que meus companheiros foram levados para outra cidade para "mudar de vida... "(?)
Por vários dias fiquei andando por ai, pedindo, roubando, sobrevivendo do jeito que dava até que uma tarde ouvi sem querer a prosa de duas vizinhas pelo muro:
— Veja só que absurdo, acaba de chegar lá na praça um ônibus de outra cidade cheia de mendigos que foram despachados para cá como se nossa cidade fosse o lixão humano.
Lixão humano! Isso era novo para mim, já tinha sido chamado de tudo, de vagabundo, fedido, pau d’água, etc... de lixo, ainda não.
Mas limitei-me a sorrir do novo apelido e fui até a praça dar as boas vindas aos meus novos companheiros de vagabundagem
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