A História do cãozinho.
Nem tão calor, nem tão frio, o sol timidamente foi tomando o horizonte, escalando o céu aos poucos, eu apenas observava a cena. Enquanto do outro lado da rua, junto ao muro da creche, estava um certo amigo canino. Focinho magrelo, meio sujo, corpo magro, costelas a mostra, sinal de fome, de descuido, de desespero, desamparo. " Quem será o seu dono", é um entre tantos pensamentos que vagam por minha mente. Saio da janela da sala onde eu estava, o relógio marcava sete e quarenta da manhã, vou para a garagem, me acomodo em uma cadeira de balanço. Eu continuo na minha observação, o cachorrinho permanece lá, cruzou as patas, a esquerda por cima da direita, parecia esperar alguma coisa de alguém que passasse, talvez um pedaço de qualquer coisa de que se pudesse comer. O animalzinho se levanta de repente, focinho para o alto, o rabo começa a balançar de um lado para outro, rosnado quase inaudível, pedindo por clemência, o homem alto passa por ele, não lhe deu nada de comer. O cãozinho cabisbaixo rodopeia, uma, duas, três vezes, e volta a se sentar no mesmo local, com as patas cruzadas da mesma maneira, olhar de tristeza, parecendo deixar escapar um fio de lágrima.
Depois de alguns minutos quieto, o cãozinho volta a se levantar, a mesma reação, a mesma alegria, o rabo balançando descontrolado. Dessa vez era um senhor de cabelos bem grisalhos, ele parou de frente com o animal, acariciou-lhe as orelhas, brincou um pouco com ele, e seguiu caminho. Mas não era somente o afago que o cãozinho queria. Então tomei uma atitude, eu não poderia continuar ali vendo aquela cena sem fazer nada, levantei-me de onde estava, fui em direção ao portão, o cãozinho pareceu ler meus pensamentos, veio correndo em minha direção; acariciei-lhe os pêlos amarelados, e disse-lhe olhando nos olhos. " Eu já volto, vou buscar algo para você comer". O animalzinho ficou no portão aguardando ansioso; minutos depois eu voltei, em uma das mãos uma uma vasilha de plástico com água, na outra, um belo pedaço de carne que havia sobrado do almoço. Meu amigo de quatro patas não se continha de tanta alegria, abanava o rabo, rodopiou, quase que pulando em cima de mim. Ele comeu com o desespero de uma fome de dias, e depois de beber a água, sentou-se novamente em frente ao meu portão, depois de algumas horas foi embora. No outro dia, lá estava ele novamente, olhar pedinte, rabo saltitante, como negar-lhe um carinho, como negar-lhe o que comer. E assim seguiram-se os dias, ora eu o alimento, ora meu vizinho. Eu não sei o nome desse amigo de quatro patas, o que posso dizer a respeito, é que ele não mora mais na rua, ele agora mora ao lado, meu vizinho, um senhor aposentado que mora sozinho, ganhou um companheiro e novo amigo.