As Palavras
Palavras, palavras, palavras e outras tantas palavras. Uma palavra é uma palavra é uma palavra é um clichê que também é uma palavra. Vá à merda, Gertrud Stein!
Escrevo há dias palavras que nem sequer enchem papel. Não sujo as mãos. Rimbaud escrevia palavras de verdade. Mallarmé escrevia palavras de mentira que se leem como se fossem verdadeiras. Apollinaire escrevia palavras de mentira para que leitores de mentira as lessem mentirosamente. E ainda hoje elas soam mentirosamente bem.
Sartre escreveu palavras de mentira. E de mentira em mentira, escreveu em as palavras, sua livresca autobiografia verbal, que, tendo descobrido, ainda criança, que era muito feio, decidiu desde então encher a caixola de palavras para compensar com elas a feiura e assim conseguir pegar mais mulheres.
Diz Platão, no Fédon:
o que de pior pode acontecer a qualquer pessoa é tornar-se inimigo da palavra.
O que queres dizer com isso, ó grego?
Na hiperinflacionada economia das palavras, mais vale quem é mais miserável. Não digo um inimigo da palavra, mas ao menos um que seja avaro delas. Que as use só para matar a fome, e olhe lá.
E fico por aqui para não exagerar na incoerência, meu pecado favorito.