Minha vida é tua vida
Mariano trabalhava como escriturário no centro da Cidade e acumulava tarefas repetitivas e enfadonhas que lhe sugaram toda a sua juventude. Em casa, arrastava um casamento sem filhos com uma esposa autoritária que roubava suas palavras, sua espontaneidade, seus pensamentos e o transformara num homem calado, fugidio de discussões e dedicado só as suas flores. As orquídeas, gardênias, margaridas, violetas e tulipas que ele cuidava com tanto carinho e lhe davam tanta satisfação. Ele se emocionava a cada novo rebento e a cada desabrochar. Sentia-se agraciado com o viço da tulipa, com o branco imaculado da gardênia e a desenvoltura da orquídea. Seu último dia de vida ele passou entre elas. Demorou-se um pouco mais do costume dando atenção para a gardênia e sentando-se, já cansado, voltou seu olhar para todas elas e faleceu. A partir daquele momento, as flores começaram a morrer e ninguém nunca mais cuidou delas.(Walter Sasso)(Autor dos livros "Dobra Púrpura" e "Sem Denise - Amazon)