CAMINHOS DE CAMUS- -FINAL
Nosso poeta MANUEL BANDEIRA escreveu a crônica “Recordação de Camus”, 9/agosto/1959, em que narra um encontro no Rio de Janeiro com o escritor francês que mais o impressionou, ainda não premiado internacionalmente (Nobel de Literatura somente em 1957), mas já escrevera o romance “A peste”, divulgado em todo o mundo. CAMUS fez uma conferência no auditório do Ministério de Educação (antes de Brasília, caro leitor!), afluência enorme de público e nosso poeta, avesso a multidões (só as aceitava nas suas aulas de Literatura Brasileira, Faculdade de Filosofia da antiga Universidade do Brasil, atual UFRJ), ainda arriscou ir até lá, mas logo bateu em retirada. Assim, nunca viu CAMUS falar (e ser questionado) em público. Houve mais tarde uma conversa ‘tête-à-tête’, quando cerca de vinte amigos brasileiros, entre os quis MURILO MENDES, ofereceram um almoço de despedida num restaurante português (peixe e vinho verde) da rua do Ouvidor, centro da cidade. Ao fim do almoço, apresentados e apertaram-se as mãos. BANDEIRA não sabia como iniciar a conversa e saiu-se com esta: “Esses almoços em restaurante me cansam muito.” Boa resposta: “A mim também.” Declarou-se exausto com tanta homenagem – sentia-se doente: resistira à guerra (II GM) e a Resistência, mas não à América do Sul. O bate-papo seguiu sem muita formalidade, pois como BANDEIRA também CAMUS fora marcado pela tuberculose na mocidade. Deu ao poeta o número do telefone de casa e que o procurasse quando fosse à França – BANDEIRA à vontade, encantado e surpreso, sem ver naquele homem vestígio algum de celebridade itinerante, mais parecendo um homem comum, nunca de letras. Ao procurá-lo um dia em Paris, estava ausente, foi pena. Tempos depois, o fortuito acidente de automóvel... Saudades do humanista e simpático ALBERT CAMUS, glória mundial!
F I M