Gatos, Cravos e a Vizinha

Observo minha filha brincar no centro recreativo do shopping, ouço ao fundo algumas canções infantis...

Por um instante, lembrei de minha infância e percebi como o mundo está mudado.

Na cantiga, dava-se uma enfase infantil a "tacar o pau no gato", só pra ver o berro que o gato dava...

O que noutra época era tido como uma inocente brincadeira, nos dias de hoje, aquela altura da peculiar composição infanto-juvenil, acirraria a crítica dos ativistas de carteirinha; pois onde já se vira gato berrar? Gato mia e, sendo assim, logo veríamos os intelectuais defensores da língua felina a dizer que passar-se-ia algumas poucas gerações para que os gatunos esquecessem de seu miado e assumissem um característico berro felino.

Não obstante, por certo, apareceriam os defensores dos direitos do animais, aliás, nos dias de hoje, bicho tem mais direito que gente e ai daquele que seja pego "tacando o pau no gato"...

Não que esteja defendendo maus tratos aos animais, mas certamente, maldade e paranoia eram palavras antagônicas a inocência infantil e não estavam imbuídas nos complexos problemas sociais que vemos dia-pós-dia.

E bicho quando vira problema, dá muito dinheiro, outro dia minha vizinha dizia no elevador que estava desnorteada porque sua "pet" estava em depressão, contara-me que o seu "gato" fugiu de casa, e abandonara a gatuna com três filhotinhos lactentes, vez ou outra, ao sair para o trabalho eu cruzaria no portão com uma pet-shop-movél que incluía até uma "psicogatologa" que estava a tratar da bichana, talvez preparando-a para um novo relacionamento.

E de tanto que vira sofrer sua gatinha, ela mesma dissera que já estaria abalada sentimentalmente com tamanho sofrimento de sua companheira, pois todas as vezes que a "gatita" ouvia as músicas de Pablo no programa do Faustão, ficara em prantos observando as lagrimas caírem daqueles pequenos olhinhos felinos e choravam as duas juntas.

E assim é o mundo de hoje, relativizasse o todo para que na subjetividade emocional do politicamente correto, haja lucro. Aliás, fiquei puxando na memória a segunda parte da música que diz que o gatinho é nosso amigo, acho que isso somente viera bem depois dos anos noventa, talvez com Xuxa...

E depois de toda aquela narrativa melo-dramática, pensei eu, malandro fora o gatuno que deu no pé, por certo, ele mesmo já não suportava mais ouvir dominicalmente as chatices de Pablo e Faustão na TV.

Logo em seguida, ouço tocar, "o cravo brigou com a rosa, debaixo de uma sacada"...

Coitado dos cravos de hoje em dia.

Samuel Moraes

12/05/2018

Sidrônio Moraes
Enviado por Sidrônio Moraes em 20/05/2018
Código do texto: T6341494
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