Os olhos da morte
No meio daquele ambiente escuro daquele bar de rock que eu frequentava todo fim de semana, o badalado Malmsteen Rock Bar, situado num bairro nobre de São Paulo, eu vi um par de olhos me observando. Um par de olhos feminino. Olhos azuis arregalados que me perseguiam inebriantemente.
De imediato senti um arrepio de prazer percorrendo minha espinha e nossos olhares se conectaram de forma mágica.
Tomado por um desejo de conquista, me empenhei na tarefa de desvendar o mistério daquele olhar que havia me hipnotizado. Me aproximei olhando fixamente aquelas pupilas, enquanto despia mentalmente o vestido gótico que escondia a nudês daquele corpo de um metro e cinquenta e cinco que estava imóvel, graciosamente apoiado na parede.
Ela continuava me olhando e quando cheguei ao seu lado, segurei delicadamente sua mão direita e dei um beijo em seu rosto. Me orgulhei da minha infalível capacidade de conquista. Bilu, o único homem capaz de conquistar mulheres recitando Edgar Allan Poe. Bilu, o conquistador experiente que não possuía nada mais que um velho casaco. Bilu, o galã de cinema que Róli ud desprezou. Então um sorriso encantador se abriu naquela face e falei ao ouvido dela algo parecido com isso :
"À que bênção devo a maldição desse olhar que me seduziu por completo? "
Ela deu um tapa na minha cara e proferiu tamanhas indecências que só vou citar resumidamente:
"Seu Filho da puta sem vergonha! Esqueceu de tomar seus remédios de novo? Que tipo de marido você pensa que é? Simplesmente abandona a esposa e os filhos em casa pra ficar na gandaia!
Não aguento mais ter que te buscar nesse boteco imundo todo santo dia!"
Naquele momento de profunda vegonha, tinha percebido que flertar com a esposa não é menos poético do que Flertar com a morte.
Após me agredir violentamente por mais alguns segundos que pareciam horas, ela me arrastou para fora do bar me puxando pelas orelhas. Me jogou na caçamba da pick up e me levou de volta pra casa, para eu cumprir meu dever de pai de família.