OBRIGADO SENHOR
Me perdoa Senhor, pois eu esqueço de agradecer, todos os dias, o café da manhã, mesmo que não haja manteiga passada no pão velho, o almoço corrido no expediente de trabalho e o jantar, já muito tarde, ao lado da velha televisão. Mas é porque eu também não me lembro que milhões de pessoas morrem de fome e uma quantidade muito maior não tem TV ou rádio, nem mesmo energia elétrica.
Me perdoa Senhor, se eu esqueço de agradecer a péssima condução, lotada, que eu pago caro, para ir trabalhar, enquanto muitos não tem sequer trabalho. E se eu desfruto do privilégio de possuir um automóvel, o que me dá opções de escolher horários e caminhos, às vezes ouvindo músicas ou notícias que me aprouverem, a minha falha é mais grave.
Quando algum incidente dificulta minha locomoção eu reclamo, esquecendo que muitos, sem movimento algum, vegetam no leito de uma cama ou maca.
Se acho que em meu trabalho é estressante por me obrigar a ler ou escrever muito, esqueço que há milhões de deficientes visuais no planeta. Também quando o barulho me aborrece, deixo de lembrar dos deficientes auditivos e se me canso de falar, esqueço de quantos mudos há neste mundo.
Quando me sinto refém de um filho ou filha que me pede tudo aquilo que eu posso dar, esqueço dos reféns de traficantes, terroristas, etc.. Eu esqueço até daqueles que são reféns de suas próprias ambições e vícios, principalmente das drogas, do álcool e do fumo.
Quando reclamo por algum encanamento ou telha quebrados em casa, esqueço daqueles que não tem uma moradia e vivem ao relento, embaixo de pontes, em bancos de praças, nas ruas das cidades grandes, médias e pequenas.
Eu esqueço sempre de agradecer até o ar que respiro, enquanto muitos só sobrevivem com inalação ou aparelhos ligados direto.
Enfim, Senhor, me perdoa porque eu esqueço que me deste o livre-arbítrio e uma memória que me permite lembrar que eu esqueço de agradecer a vida que me deste!
Fernando Alberto Salinas Couto