O diabo do TCC
Um dia desses, eu estive em uma universidade fazendo uma das minhas exóticas pesquisas sobre o passado. Estava em uma sala ampla onde mais coisas aconteciam, incluindo uma aluna de último período que pedia orientação a alguns professores. Era o seu famigerado TCC e ela tinha muitas dúvidas sobre os caminhos que devia seguir. Tinha algumas ideias e as apresentou, mas uma professora em especial fez ver que aquilo não estava certo e que precisava ser feito de um jeito totalmente diferente. A menina – era apenas uma menina – ainda tentou argumentar alguma coisa, mas depois se convenceu de que havia tido uma ideia estúpida mesmo. Pensou em outra coisa, mas a sua nova ideia trazia mais dificuldades. A professora apresentou muitas sugestões, mas cada sugestão apontava para um lado, e no fim a menina se viu com um leque imenso de possibilidades, sem fazer a menor ideia de qual caminho deveria seguir.
Ela só queria se formar, ela só queria ter uma profissão, talvez nem fosse a profissão que ela queria de verdade, talvez fosse apenas aquela que lhe daria um emprego. Mas ela não se formaria, não teria uma profissão e muito menos um emprego se não fizesse o diabo daquele TCC. A menina se esforçava, fazia de tudo para atender às exigências que lhe faziam, só que nunca parecia o bastante. Havia sempre algo a mudar ou adequar e, quando ela achava que já havia feito um bom progresso, aparecia uma professora e a fazia voltar ao ponto de partida. Era preciso seguir muitas regras que ela não compreendia exatamente. Ela tinha ficado tão aliviada com a ideia que havia tido, achou que assim poderia resolver o problema do seu trabalho. Mas a professora disse que não...
Então houve um momento em que a menina achou que nunca seria capaz de fazer aquilo. Ela não daria conta de fazer aquilo que estavam pedindo, ela não conseguiria escolher um dos caminhos que lhe ofereciam, ela não poderia jamais botar uma ordem naquele emaranhado de ideias. Ela tentava, estivera tentando até então, mas não dava. E o seu fracasso era uma coisa tão triste, e as consequências que ele traria seriam tão graves, que houve um momento em que ela perdeu o controle de si e se desesperou.
Chorou, chorou um choro muito sentido, um choro que devia estar sendo guardado há bastante tempo. Era também uma maneira de se defender de toda aquela pressão que colocavam sobre ela. Claro, a professora recuou, disse que não tinha a intenção, que só queria ajudar, e tentou consolar a menina. A professora precisava estar em paz com a consciência, ela não poderia suportar a ideia de que havia feito chorar uma aluna, e por isso perguntou ao homem que me ajudava com as pesquisas se ele achava que era para tanto, se achava que o que ela havia falado justificava uma reação como aquela. O homem que me ajudava era um trocista de marca maior, mas acho que havia alguma sinceridade na sua resposta: “Acho, acho que sim”. E a professora redobrou as suas tentativas de consolar a menina. Ainda chorava, mas se esforçava para conseguir parar. Por fim, ela se acalmou, a professora falou umas frases de incentivo e a menina se foi, mais desorientada do que antes.
Ela só queria ter uma profissão, e talvez nem fosse a que mais desejava.