A evolução que o celular propõe
Esses dias eu vi uma mulher no maior bate papo. Isso seria normal, se não fosse o fato de não estar acompanhada. Observei a sena hilária e antes que vocês maldosos a adjetive como doida, percebi que ela, na verdade, estava ao celular. Desses pequeninos, e põe pequeno nisso, tão pequeno que sua orelha segurava e o cabelo escondia.
Daí eu lembrei de um hábito meu. O de conversar sozinho. Desde criança venho aperfeiçoando técnicas para que o povão não percebesse que eu falo sozinho. E isso, só por isso na verdade, por que não quero ser tachado na rua como doido. Quando criança, recebi um apelido carinho por causa da minha falação: Leléu. Como sou discreto, e não dou bola às falácias, o apelido não pegou. Mesmo assim me controlo ao máximo nas ruas.
Até então só conversava sozinho em casa, em geral quando ninguém estava por perto e quando as janelas estavam estrategicamente fechadas. Admito que, conversar sozinho seja uma terapia e tanto. Mas, ao mesmo tempo, hilário. Ver aquela mulher morena e bonita conversar “sozinha”, era um teste de alto controle emocional. Mesmo sendo vítima desse vício, queria rir ao máximo.
Com o advento do celular “pequeno”, não precisarei mais me controlar para não conversar sozinho. É só colocar o aparelho e pronto. Quem disse que tem que ter alguém do outro lado da linha? Ninguém poderá argüir!
Não tem dinheiro para comprar um celular do tamanho de um brinco? Vá a alguma praça de moambas do Paraguai, toda cidade com mais de trinta mil habitantes tem uma, compre um fone de R$ 1,99, tem que ser do fone grande e que prende no ouvido. Corte o fio e pronto! Já tens algo parecido com um celular. É só sair por aí e conversar sozinho a vontade. Caso apareço algum pentelho pedindo o celular emprestado mande-o, carinhosamente, se catar.