Preciso ver as imagens estampadas em papel.
Rodeadas por molduras. Ladeadas de bibelôs, pregadas em paredes.
A memória possui uma decoração estranha. Cores inusitadas e sentimentos inéditos.
Preciso cercar-me de adendos, lembretes e gritos agnósticos.
A dor percorre caminhos e abismos. Assassina a alma lentamente.
O luto impressiona pelas trevas avassaladoras que cobre o corpo.
E esconde a dor no silêncio das preces e as esperanças absurdas.
Preciso ver, vivenciar com os olhos a materialidade que não mais existe.
Talvez não consiga jamais apagar, superar, transcender e sobreviver.
Pois morri também no desenlace dos meus. Morri um pouco, na ausência nítida
Estampada na lápide. Ausência carcomida, ressonada e derramada por lágrimas invisíveis e saudades escamoteadas.