Vida na Roça

Vida na roça (Reeditando...)

Acordei às quatro horas da madrugada, ainda sem o canto dos galos a enfeitar o silêncio, este recheado com o cricrilar dos grilhos por entre o bambuzal.

Como ainda era um pouco cedo, e nem a dona Aurora tinha ainda vindo dar o seu ar da graça para os pobres mortais, fiquei a xeretar no pensamento alheio...

(...)

Uns sonhos esquisitos depois, e eis que me ponho de pé para dar início a faina diária, coisa a que todo roceiro veterano se acostuma.

Como estamos no outono, as plantas mais jovens e as transplantadas exigem mais carinho e cuidados. Não me fazendo de rogado, baldes nas mãos, la fui eu aspergir água na grande população vegetal de nossa casa, parando pra conversar com cada um desses delicados viventes.

"Bom dia, dona Cana-da-Índia!"

"Como vai a familiar Dr. Manjericão." (Com este senhor tomo um cuidado especial, pois alguns incautos lhe praticam bullyng, chamando- de Manjerona, coitado.)

E sigo num papo animado com um dos irmãos Pêssegos...

"Rapaz, aquelas sauvas assassinas quase acabaram com você!"

"Pois é, "seo" João. Olha só o estrago que me fizeram."

Conversa posta em dias com essa turma verde, (percebam que por prudencia nem fiz qualquer alusão à recente derrota para os alvinegros, time dos jacus) fui me dirigindo ao Paciência, um cara arrogante que se acha pai de todos, pois, como faz questão de frisar, sem suas águas nada prospera.

Acho que o cara não estava lá muito contente com as minhas repetidas incursões em seu leito, (deve ser muito cioso de sua intimidade, esse gajo...) já que numa delas me deu uma rasteira e me fez tomar um banho gelado de roupa e tudo.

(São ossos do ofício daqueles que moram na roça...)

(...)

Pois bem! Logo depois do cuidado com a turma de Pasargada Leste, o país Verde, fui dar conta das necessidades dos emplumados de toda ordem, com alguns coelhos infiltrados em meio a galera.

Cumprimentei a Gioconda, a galinha mãe, fiz um afago na Lady Di, (que coelhinha mais fofa) e me inclinei respeitosamente diante do Tuth, (Tuthankamon, o Grande) o chefe da Patolandia.

Com a manhã já se despedindo, resolvi me premiar com a degustação de um chá oferecido pela menina Melissa, misturada com umas tenras folhinhas do jovem Limoeiro.

Mas, sempre surge um intempestivo "mas", eis que a Greta e a Cléo (cadela e gata numa parceiria improvável) a exigir imperiosamente que eu lhes atenda com a devida urgência...!

Vida dura esta, sô!

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 16/05/2018
Reeditado em 01/10/2019
Código do texto: T6338065
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