Nulla dies sine linea - 04/02/2018
O “Subsidiário” do escritor brasileiro Herberto Sales (1917–1999) é um grande relato da labuta do escritor que busca tomar posse do seu estilo. Sobre o conto, diz Herberto Sales:
"… só escreve um bom conto quem sabe realmente escrever. Quer dizer: quem tem o domínio da língua. Quem tem -- escrevendo -- o senso da medida. O arpejo certo. Sem uma nota a mais ou uma nota a menos. O buraco da agulha e a linha. Quase que a conta matemática da escrita. Pode aparecer o conto que aparecer, querendo inovar ou renovar,querendo como se diz ser 'diferente'. Pode aparecer o autor geniozinho que aparecer, em ritmo de onda ou de patota, pode aparecer o diabo. Mas se o contista não domina a sua expressão literária, se por detrás do que bola e rebola não tem ele formação escritural e estrutural, no sentido do conhecimento pleno dos seus materiais de construção contística, nada feito. Pode ganhar fama suplementária. Ou suplemental. E também resenhal. Mas o seu conto passa, e com o seu conto passa o contista. Porque o conto que não passa e com ele o contista que não passa-- são, os dois, exatamente dois encaixes justapostos de escrita e de estrutura se encaixando. Um autor e uma forma, sua balança de pesar palavras. Quem quiser escrever conto que trate de arrumar de saída sua balança de pesar palavras. Essa balança será a sua arma. E a sua salvação".
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Do livro de Stefan Zweig, Momentos Estelares de la Humanidad, sobre a transformação operada na alma de Dostoiévski após este se ter tornado um condenado à morte que escapou:
"Então ele parece ouvir pela primeira vez o grito de todas as dores humanas e, cheio de uma imensa piedade, reza e chora. Escuta as vozes das crianças e dos fracos, das mulheres pobres afundadas na prostituição, dos solitários sem consolo. Compreende que só a dor nos conduz a Deus, enquanto a vida alegre e fácil nos ata com laços de lama à terra. Continua ouvindo o coro dos miseráveis, dos desprezados, dos mártires anônimos, dos que morrem na sarjeta abandonados pelo mundo. A luz parece cantar aquela dor terrena. E ele crê na suprema e paternal bondade de Deus. Sabe que só Ele tem amor e piedade imensa para os pobres. Por fim, um anjo portador de um divino raio de luz mostra a seu dolorido coração que na morte começa a glória da vida. Caiu de joelhos, destroçado pelo grito da dor humano. Logo se sente abatido por um infinito estremecimento, uma espécie de convulsão que desloca seus membros; a boca se lhe enche de espuma e um mar de lágrimas brota de seus olhos. Está convencido de que não pôde experimentar a doçura da vida antes que seus lábios tivessem provado a amargura da morte. Sua alma compreendeu, deu-se conta completamente dos terríveis momentos que sofreu Aquele que morreu, há dois mil anos, em uma cruz. E, como novo Cristo, deve amar a vida iluminado por uma luz nova. Uns soldados o tiram do lugar onde haveria a execução. Está muito pálido, seus olhos se encontram alucinados pela horrível visão e em seus lábios se inicia já a gargalhada amarela dos Karamazov".
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“O maior pecado, depois do pecado, é a publicação do pecado”.
Machado de Assis, “Quincas Borba”.
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Que maravilha o ensaio de Henry Miller sobre Rimbaud, “The Time of the Assassins”! Há poucas coisas tão prazerosas como ler um grande escritor escrevendo, com sincera admiração, sobre outro:
“He was so utterly the outcast, the rebel, the accursed one, that nothing could save him”.
“Like Rimbaud, I too began at an early age to cry: ‘Death to God!’ It was death to everything which the parents endorsed or approved of. It extended even to their friends whom I openly insulted in their presence, even as a stripling. The antagonism never ceased until my father was virtually at the point of death, when at last I began to see how much I resembled him.
“Like Rimbaud, I hated the place I was born in. I will hate it till my dying day. My earliest impulse is to break look from home, from the city I detest, from the country and its citizens with whom I feel nothing in common”.
Henry Miller, “The time of the Assassins: a study of Rimbaud”.
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Juó Bananére parafraseando o famoso soneto Olavo Bilac:
XINGUÊ, xisgaste! Vigna afatigada i triste
I tirste i afatigada io vigna;
Tu tigna a arma povolada di sogno
I a arma povolada di sogno io tigna.
Ti amê, m’amasti! Bunitigno io éra
I tu tambê era bunitigna;
Tu tigna uma garigna de féra
E io di féra tigna uma garigna.
Una veiz ti begiê a linda mó,
I a migna tambê vucê begió.
Vucê mi apiso nu pé, e io non pisé no da signora.
Moltos abbracio mi deu vucê,
Moltos abbracio io tambê ti dê.
U fóra vucê mi deu, e io tambê ti dê u fóra.
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“O homem entra no bar para transcender-se -- eis a miserável verdade”.
Paulo Mendes Campos