Nome de personagem

Em 2015 eu criei a ANEABRA - Associação de Nomes Excluídos das Artes Brasileiras. Porque maioria das obras que eu lia, assistia, levava personagem com nome-havaianas: comum demais, de haver um bocado numa rua só. Era Maria, Pedro, Ana, João. Diego, Laura, José, Gabriela...

Nesse tempo eu não conhecia João Cabral e seu Severino retirante; só via Severino em nome de porteiro na Globo. Meu sonho era um Severino protagonista de Malhação. Nunca rolou. Peguei raiva. Decidi ir pro fight: minhas personagens só teriam nome plebeu.

Abri o bloco de notas do celular e comecei um arquivo de nomes underground. Os melhores terminam em "eide". Cleide, Josineide, Ivaneide. Outra boa é "ete". Josinete, Deusinete, Claudete. Pra nome de homem os que terminam em "aldo". Um nome legal é Juarez. Pense num menininho chamado Juarez. Você vai a um colégio e diz: "Chama Juarez aí pra mim". O cabra já sabe quem é. Agora chega lá e pergunta por Gabriel pra tu ver... O bicho olha pra tu e pergunta: "Gabriel de quê?".

Às vezes eu brinco: tomo um nome comum e potencializo ele. Aprendi com a escritora Raquel Fernandes. Ela pegou "Bruna", comum que só, e adicionou "Surfistinha".

Meu arquivo de nomes só faz esticar. Todo dia lembro de um nome da infância, encontro mais outro em conversa alheia. O último da lista é "Tércio", vice-presidente da ANEABRA.