Margaridas que germinam e "A meus filhos, com carinho"
Na semana que antecede o dia das mães – que deveria ser todos os dias – uma homenagem à minha mãe, Isaura, e a meus filhos, Eveline e Renan, e ao neto Francisco. Um feliz dia a todas as mães biológicas ou não e que se dedicam a essa difícil e grata arte de educar pessoinhas com amor e dedicação. Boa leitura!
Margaridas que germinam
Como há cenários de nossa infância que ficam marcadas em nossa mente e que não se apagam!
Lembro-me dos jardins nos fundos de nossa casa sempre floridos.
Minha mãe, mulher batalhadora, de personalidade forte, mas ao mesmo tempo muito sensível, sempre gostou de flores. Foi uma mãe presente. Daquelas que se senta pra fazer a lição com os filhos. Mulher de pouco estudo, costumava mandar cartas às tias que moravam no interior. Eu, que sempre gostei das letras, a ouvia ler em voz alta com atenção. Depois de alfabetizada, adorava ler. Ortografia correta, caligrafia impecável, paragrafação bem feita. Carta esteticamente perfeita. Tudo em detrimento da falta de estudos. A velha “BIC” “corria solta” pela folha de papel corrigida várias vezes para não haver erros.
Seria clichê se falasse que devo a ela tudo o que sou e nostálgica demais, mas insisto em dizer por experiência que nosso passado dá respostas ao que somos. Dadas algumas neuras também, nada é perfeito, mas o resultado é positivo.
Voltando ao jardim, o colorido era maravilhoso! Tanta diversidade! Rainha margarida, chuva de prata, crisântemo, trevo de quatro folhas, amor perfeito, cravinas, miosótis, onze horas, e por aí iam o número de espécies de flores. Um arco-íris florido.
Meu pai, hoje aposentado, é construtor. Em contraste ao jardim, no quintal, sempre guardou entulhos, areia, um resto de piso da reforma recém feita. Nada atrapalhava a beleza do jardim.
Herdei dela o gosto pelas flores e vasos em casa. Dele, a positividade, a força, a intensidade em tudo que faço.
As margaridas são para mim o exemplo do belo sendo simples, das cores leves e claras, do amarelo símbolo da luz, do branco, a paz. Da resiliência ao replantar e replantar os férteis canteiros.
Minha mãe era a margarida; minha família, o jardim. A experiência, a água que faz germinar. Eu, em eterno crescimento pessoal, quem serei eu?
Sou ou tento transferir todo o amor que tive a meus filhos.
A meus filhos, com carinho:
“Filho é um ser que nos emprestaram para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos.” – A frase impactante de José Saramago, escritor português que se auto-intitulava ateu, nos diz um pouco da dádiva de ser mãe ou “pãe”. Só quem é sabe. É um eterno preocupar-se, noites de insônia quando bebês, emprestar a própria vida e deixar os prazeres para depois em detrimento ao rebento lindo e que depende completamente dos cuidados da mãe. Os dias de aflição, a febre inoportuna. O primeiro dia na escola. A decepção pela baixa nota na escola. O nascimento do primeiro dente.
Daí eles crescem. E fica a saudade do tempo em que davam trabalho, mas estavam pertinho, dependentes. É a vida.
Como tudo é um eterno e necessário ciclo, na vida vegetal que germina, nascemos, crescemos, reproduzimos e um dia pereceremos. Assim é conosco.
Enquanto isso, nos bastidores, vamos fazendo o melhor roteiro, traçando capítulos com personagens do bem e de caráter.