Caí na Real
Hoje, estando sentado à mesa, tomando o café da manhã, estranhos pensamentos me vieram à mente. Talvez isso haja acontecido por haver recebido um telefonema informando-me de um grave problema de saúde de uma pessoa amiga. Enquanto ingeria meu lanche matinal lembrei-me da aflição que esta pessoa estaria passando e da angústia de seus familiares. Por várias vezes, naquele momento, levantei a Deus orações de súplica em prol daqueles amigos além de haver me colocado inteiramente a sua disposição. Foi então que me dei conta de duas coisas muito importantes: A primeira era que Deus havia me premiado com uma saúde física e mental invejável; a segunda era que já havia alcançado a idade de setenta e dois anos e, se nada de extraordinário acontecesse, iria muito mais longe. Lembrei-me então de quando era mais novo e achava que após os cinqüenta anos começava-se a contagem regressiva para o fim. Eu não me sentia no fim e o coração ainda estava cheio de sonhos e ideais. Mas foi aí que caí na real. Constatei que continuava construindo castelos humanos, o que era bom, mas não era tudo. Já havia avançado mais da metade da vida terrena e em breve haveria de começar uma nova jornada, rumo à eternidade, sem que já houvesse começado a preparar a bagagem. E me veio à mente a pessoa amiga enferma que estava precisando de mim, de meu apoio, da minha presença, de minhas orações e de tudo o mais que fosse necessário. E minha consciência gritou alto:“Deste mundo, a única bagagem que se leva é o Bem que se pratica.” Lembrei-me ainda do ensinamento da época de criança quando minha catequista obrigou-me a decorar: “ Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.” Decidi-me então começar a preparar a minha bagagem. Levantei-me, peguei o telefone e disse aos familiares da pessoa amiga: “Estou a caminho.”