CRIAMOS UM MONSTRO (OU O FEITIÇO CONTRA O FEITICEIRO)

O equívoco (se é que foi isso mesmo) da Lei da Ficha Limpa foi transferir para o Judiciário uma competência que, nas democracias, via de regra, é exclusividade dos eleitores: o julgamento sobre a idoneidade moral de seus pretensos representantes, os candidatos.

O Brasil, depois da Lei da Ficha Limpa, tornou-se, se não a única, uma das poucas democracias do mundo, em que se considera juízes e promotores mais bem habilitados do que os representados para julgar moralmente os seus pretensos representantes.

Hoje, o PT e a ala progressista da Igreja Católica (co-idealizadora e co-fundadora desse partido) querem que a Justiça devolva ao povo o poder que lhe foi usurpado pela Lei, tornando Lula novamente elegível. Porém, ambas forças (PT e ala progressista da Igreja) uniram esforços pela elaboração, aprovação e sanção da referida Lei.

Este é o caso clássico de confirmação do adágio popular, quando “o feitiço vira contra o feiticeiro”.

Por isso, nunca é demais lembrar: não deseje aos seus desafetos um fardo que possa vir a ser demasiadamente pesado até para você. A vida humana é uma imitação da selvagem: o predador de hoje, eventualmente poderá converter-se na presa de amanhã, e vice-versa. É impossível prever qual dia seremos a pesca, e qual, o pescador.