Cada um com a sua necessidade.
Visivelmente transtornada a jovem senhora saiu do Hospital e foi caminhando devagar até o Metrô.
Na sacola pendurada no ombro, iam roupas, potes com restos do almoço, bolachas, torradas, potinhos de geleia, manteiga e duas frutas - sobras das refeições dos últimos cinco dias que esteve de plantão 24 horas ao lado do seu caçula de cinco anos com leucemia e diagnóstico desanimador.
Aqueles restos seria o seu jantar.
Em seu coração pedia a Deus que estivesse tudo bem em casa com seus adolescentes e o marido. Preocupava-se com o que estavam comendo: lanche e miojo, quase todos os dias.
Felizmente havia o Prato Feito, comida barata, perto da Escola dos meninos e da obra que o marido trabalhava.
Os últimos meses a rotina era essa: de segunda a sexta no hospital.
Sábado e domingo ficava o marido e ela lavava, cozinhava, ia a supermercados procurar ofertas...
Eram 16 horas quando tomou o metrô na estação mais movimentada da cidade. Conseguiu um lugar e ia pensando, pensando...
De tanto pensar sua cabeça pesava e pendia pro lado.
_ Nem sei o que farei pro jantar. Preciso ajustar a calça jeans e a bermuda que uso. Tanta gente se esforçando pra emagrecer e eu perdendo peso do nada... Se bem que nem como direito desde que Joãozinho adoeceu.
Seus pensamentos foram interrompidos pelos pregões e pregadores que iam e vinham no metro. Eram vendedores de canetas, bolachas, balas, pedidos de esmola...
Na estação Santa Rosa entrou uma moça com uma criança pela mão e outra no colo, seguida do marido que pedia esmola.
A mulher olhou aquelas crianças coradas e sujas e lembrou-se de Joãozinho esquelético no fundo do berço. _ Essa gente tem mais sorte que eu...
Nas dez estações que viajou a cena se repetiu.
O penúltimo dizia saber o caminho da salvação e se dizia íntimo de Deus.
Não ouviu uma palavra de sua verborragia, e sentiu dó de sua pseudo sabedoria.
Não a deixaram pensar ou descansar, mas a mulher nada reclamou e concluiu de si pra si mesma que cada ser humano tem a sua necessidade.