Perdão da mãe assassinada
1. Duas canções do incomparável Vicente Celestino, eu criança, me faziam chorar. Era ouvir "O Ébrio" e "Coração materno" e caia no choro, discretamente censurado por minha mãe, que não conseguia esconder seus lindos olhos castanhos nadando em tímidas lágrimas. Tínhamos corações parecidos.
2. Oi, mãe! Com certeza a vida no Céu, onde voce está morando, é bem melhor, né mesmo? Bênsa! Estou vendo você me abençoando, em que pese os quinze anos que nos separam, desde aquela tarde do seu último adeus... Veja, tal como você me ensinou, não perdi o costume de lhe pedir a bênção.
3. Mas voltemos às canções do saudoso tenor Vicente Celestino. Sobre "O Ébrio", falarei pouco. Seria forçar demais a barra misturar, no "Dia das Mães", a canção de um beberrão com a canção de um matricida, ambas reconhecidamente trágicas.
4. O certo é que, apesar de trágicas, elas mexiam com o coraçãozinho daquele garoto, pesaroso com o que acontecera nas duas canções. Se condoía com a desgraça do pai alcoólatra e a morte de sua filha e do amante que, a pedido de sua amada, arrancara o coração de sua própria mãe.
5. Deixo, portanto, "O Ébrio" para comentários futuros. E me ligo, a partir d'agora, na canção "Coração materno", que, como afirmei, me arrancou tantos soluços, lá atrás, no início da minha caminhada, já tão longa mas tão boa...
6. Disse ela, num gracejo funesto, ao campônio, seu amor: "Se é verdade tua paixão/ Parte já e pra mim vai buscar/ De tua mãe, inteiro o coração".
Sem hesitar, o camponês partiu. Chegando à choupana, "encontra a mãezinha ajoelhada a rezar". Rasga-lhe o peito. E do peito da velhinha, tira o "pobre coração" e volta , festejando: "Vitória, vitória, tem minha paixão".
7. No trajeto de volta, aconteceu o pior: o campônio caiu "e na queda uma perna partiu". E prossegue a canção: "E à distância, saltou-lhe da mão/ Sobre a terra o pobre coração".
A história podia ter terminado aí, com o filho criminoso castigado e o coração, que arrancara de sua mãe, pulsando, agora, na poeira da estrada. Impossível, portanto, de chegar às mãos da brincalhona namorada do camponês.
8. Não parou. Nesse instante, diz a canção, ouviu-se uma voz que dizia: "Magoou-se, pobre filho meu?/ Vem buscar-me, filho, aqui estou,/ Vem buscar-me que ainda SOU TEU".
9. Desculpem-me as mamães, por lhes trazer, no seu dia, história tão dolorosa. Em última análise, o que desejei mesmo foi por em evidência o amor de mãe.
A canção do Celestino diz quão generoso é o coração materno, que não hesita em perdoar o filho criminoso, ainda que ele seja um matricida.
1. Duas canções do incomparável Vicente Celestino, eu criança, me faziam chorar. Era ouvir "O Ébrio" e "Coração materno" e caia no choro, discretamente censurado por minha mãe, que não conseguia esconder seus lindos olhos castanhos nadando em tímidas lágrimas. Tínhamos corações parecidos.
2. Oi, mãe! Com certeza a vida no Céu, onde voce está morando, é bem melhor, né mesmo? Bênsa! Estou vendo você me abençoando, em que pese os quinze anos que nos separam, desde aquela tarde do seu último adeus... Veja, tal como você me ensinou, não perdi o costume de lhe pedir a bênção.
3. Mas voltemos às canções do saudoso tenor Vicente Celestino. Sobre "O Ébrio", falarei pouco. Seria forçar demais a barra misturar, no "Dia das Mães", a canção de um beberrão com a canção de um matricida, ambas reconhecidamente trágicas.
4. O certo é que, apesar de trágicas, elas mexiam com o coraçãozinho daquele garoto, pesaroso com o que acontecera nas duas canções. Se condoía com a desgraça do pai alcoólatra e a morte de sua filha e do amante que, a pedido de sua amada, arrancara o coração de sua própria mãe.
5. Deixo, portanto, "O Ébrio" para comentários futuros. E me ligo, a partir d'agora, na canção "Coração materno", que, como afirmei, me arrancou tantos soluços, lá atrás, no início da minha caminhada, já tão longa mas tão boa...
6. Disse ela, num gracejo funesto, ao campônio, seu amor: "Se é verdade tua paixão/ Parte já e pra mim vai buscar/ De tua mãe, inteiro o coração".
Sem hesitar, o camponês partiu. Chegando à choupana, "encontra a mãezinha ajoelhada a rezar". Rasga-lhe o peito. E do peito da velhinha, tira o "pobre coração" e volta , festejando: "Vitória, vitória, tem minha paixão".
7. No trajeto de volta, aconteceu o pior: o campônio caiu "e na queda uma perna partiu". E prossegue a canção: "E à distância, saltou-lhe da mão/ Sobre a terra o pobre coração".
A história podia ter terminado aí, com o filho criminoso castigado e o coração, que arrancara de sua mãe, pulsando, agora, na poeira da estrada. Impossível, portanto, de chegar às mãos da brincalhona namorada do camponês.
8. Não parou. Nesse instante, diz a canção, ouviu-se uma voz que dizia: "Magoou-se, pobre filho meu?/ Vem buscar-me, filho, aqui estou,/ Vem buscar-me que ainda SOU TEU".
9. Desculpem-me as mamães, por lhes trazer, no seu dia, história tão dolorosa. Em última análise, o que desejei mesmo foi por em evidência o amor de mãe.
A canção do Celestino diz quão generoso é o coração materno, que não hesita em perdoar o filho criminoso, ainda que ele seja um matricida.