MÃE. MULHER.
Dia da mulher.Festejou-se recentemente.Seria pouco?
Sim. Por que a mulher é mãe.
Altar onde repousa o mais sagrado bem, vida, de surgimento mágico e inexplicável. Digressão profunda sem raiz científica, alma.
Dia da mãe, todo dia na festa do amor maior sem fronteiras.
Já contei aqui, certa vez trabalhava com uma escrevente entre outras, que vindo para despachos e percebendo que estava nervosa perguntei o que ocorria. Ela disse: a pessoa que toma conta de meu filho de oito anos necessita ir embora. Ponderei que conseguiria outra pessoa de confiança. Disse ela: de confiança para meu filho só eu, mas preciso trabalhar, chego às oito e saio às seis, não tenho como abrir mão do trabalho.
Não há corte do cordão umbilical, nunca. O sacrário da vida é o útero, sua extensão é a sucessão do amor. Há permanência de amor infinito que não comporta definições.Emoções indefiníveis não se prestam a verbos nem retóricas traduzem, silenciam nas tentativas de discurso. Balbucia-se algo, como agora faço.
Meu trilho seguro em que transito devo ao máximo expoente feminino, mulher sem adjetivos possíveis, a Virgem Maria, Mãe de Deus.
Mulheres são mães de alguma forma. Os valores, femininos, exponenciais, servem a todos os filhos não havidos, se projetam em todos os seres habitantes do mundo. Não importa o corpo, a forma, vale o exemplo da realidade irrealizada. São filhos, aqueles banhados em luz de uma vida de boa vontade em exemplos declinados.
As mulheres, mães ou não, são educadoras da humanidade, do lar até suas atividades todas. Nisso a verdadeira maternidade que gera razão de ser melhor, conduzir antes de gerar.
Muitos seguimos e nada somos biologicamente dos seguidos, mas permanecem seus ensinamentos, somos os princípios aprendidos. Filhos desses princípios. A maternidade não é só trazer vida, mas ensinar a viver, principal atividade da mulher no mundo.
Sob conceito logístico válida é a proposição oficializada pelo dogma de "Theotokos" (Mãe de Deus), uma doutrina que não se encontra na Bíblia. A ficção que a fé torna realidade é a mesma que faz de todas as mulheres mães, ainda que sem materialidade formal. Ela, a mulher, é nascedouro da vida.
MÃE MAIOR - SAUDADE.
A mãe maior que nos afaga sofreu sem desespero e se entregou à resignação silenciosa, indescritível, de ver morrer seu filho, o Homem-Deus, sem apelos ao Pai. Lágrima muda do Gólgota, mãe de todos que se ajoelham aos seus pés em todos os rincões onde surgiu e surge, mensagem da paz e da concórdia a lembrar o martírio de seu filho pela aproximação da humanidade.
Mãe de nossas mães, mãe de todos, tranquilidade do rosário, mantra divino que enternece corações, protetora dos corpos a quem se revelou, deixando-os hígidos após a morte.
Verdade da transcendência incompreendida pelos que pecam pecados capitais e são tragados pela dúvida dos néscios sobre seu filho.
Caminho e veículo da revelação de seu parto, materialização do espírito que se faz forma em locais santos, onde nosso corações são inundados de inefável alegria, exclusiva irradiação da divindade.
Maria, mãe de minha mãe, mãe de todos nós, mãe da humanidade na concepção de seu filho;
JESUS CRISTO.
“Saudade.
Mãe, sem muita coragem escrevo-lhe estas linhas;
Flor do campo,
Brisa da manhã,
Verde dos vales,
Azul do mar,
Perfeição da natureza feita mulher;
Ontem meu reduto, largo abrigo, paz da aflição;
Hoje meu confessionário, proteção suave que brilha no firmamento;
Vida da minha vida, semente de meu pão, silêncio mudo de minhas súplicas;
Bonança das horas de angústia;
Teu nome a calma,
Teu sorriso a maravilha,
Tua presença a segurança;
Minha mãe, tudo do nada que somos, leito e estuário no sacrário dos sentimentos;
Pó da vida,
Vida das certezas, do desinteresse, da esperança;
Amplo abraço dos meus sonhos,
Café com leite das noites cansadas,
Espera sofrida da chegada,
Vigília do amor;
Saciedade dos desejos, desmedidas emoções;
Braços que se abraçam, mãos que se dão;
Ansiedade, saudade."
Escrito uma semana após o falecimento de minha mãe, em 1986, publicado pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros, na antologia “A TOGA E A LIRA II”, edição de 1988.