O PRINCÍPIO

O

"Mamãe, de onde eu vinha quando me encontraste?" - perguntou o menino à sua mãe.

A mãe, entre rindo e chorando, estreitou o menino nos braços e respondeu: "Tu estavas no meu coração, como o seu desejo, meu amor. Estavas com as bonecas com que eu brincava em minha infância. E, a cada manhã, quando eu fazia com barro a imagem do meu deus, era a ti que eu fazia e desfazia.

Estavas no altar, com o deus da nossa casa; ao adorá-lo, era a ti que eu adorava. Vivias em todas as minhas esperanças e em todos os meus afetos.

Viveste em minha vida e na vida de minha mãe. Viestes pouco a pouco, um século depois do outro, no seio do Espírito imortal que governa o nosso lar. Quando eu era moça e o meu coração desabrochava, tu flutuavas ao meu redor como perfume.

Tua suavidade terna floresceu primeiro em meu corpo jovem, como a cor da alvorada, antes do sol despontar. Primeiro amor do céu, irmão gêmeo da luz matutina, tu desceste ao mundo no rio da vida e, finalmente, vieste pousar em meu coração..."

Que enlevo me arrebata quando eu te contemplo, meu filho! Eras tudo e te tornaste meu. Que medo eu tenho de te perder... É por isso que eu te estreito em meu seio.

Ah, que milagre envolveu o tesouro do mundo nestes meus tão frágeis braços?

Rabindranath Tagore
Enviado por Miguel Toledo em 10/05/2018
Reeditado em 11/05/2018
Código do texto: T6332742
Classificação de conteúdo: seguro