ROMPENDO PRECONCEITOS
As situações vão ocorrendo em minha vida como se houvesse um propósito , acredito que para todos existe uma missão, mas cada um da sua forma.
Sempre tive vontade de pilotar uma moto, mas devido a minha deficiência física, ficava sempre no sonho,como o fator financeiro ajudava mais ainda a desmantelar do sonhar. Até que em 2015 surgiu uma oportunidade magnifica, financeiramente, como também o surgimento de uma pessoa maravilhosa que me incentivou e ao mesmo tempo convenceu as pessoas que podiam doar a quantia para que pudesse comprar minha moto cinquentinha , para logo adaptar a mesma.
Logo eu, que sempre tive vergonha de mim mesmo, do meu defeito físico, quando jovem, e até hoje nunca quis me olhar por inteiro num espelho. Agora me expondo com duas muletas, uma em cada lado da moto saindo nas ruas de Salvador, indo para o trabalho, cinema, teatro, supermercado, padaria, shoppings.
Mas o que é mais interessante é que uma capital como Salvador em torno de três milhões de habitantes, em pleno século vinte um, uma capital com muitas histórias de lutas , de grandes eventos culturais, uma grande parte das pessoas se comportam de uma forma provinciana , ficam olhando como se estivessem vendo um extra terrestre , comentam, tiram fotos.
porém, de uma coisa não posso reclamar , existem pessoas compreensivas no trânsito, posso até dizer , admiração . É claro que existem aqueles incompreensíveis , contudo, é o ser humano, um ser tão complexo.
Pois é, sair da minha letargia, do meu casulo para me expor todos os dias no trânsito de Salvador . Me exponho agora cotidianamente aos holofotes dos olhares preconceituosos, outros não, e assim vou vivenciando minha sina de mostrar que a deficiência física num país em que ser deficiente é diferenciado perante aos não deficientes. Como diz João B. Cintra Ribas no seu livro "O que são pessoas Deficientes " na coleção Primeiros Passos. "Pessoas deficientes e não deficientes são iguais perante a sociedade. Não , não são, todos são de fato diferentes socialmente (...)"
Os deficientes são distintos na aceitação social. Quando ele tem condições econômicas desfavorável, o preconceito é maior ainda do que aquele que é mais desfavorável na escala da pirâmide social.
Tem também a rejeição do deficiente mental, esse é muito mais ainda
No seu livro, João B. Cintra Ribas cita Eliane Gonçalves de Araújo e Luiz Itamar Jaines, no livro "Vivendo o Desafio: A libertação dos Deficiência física. Esses autores agradecem a Deus pela deficiência, procurando tirar proveito da sua posição de doente,não vendo só o lado negativo. Embora João B. Cintra Ribas respeite o lado religioso dos autores,mas ele entende que isso é resignação . "Todas as pessoas, quando estão numa situação que as importuna, tentam muitas vezes a saída através de uma fé ou uma crença que miniminize os efeitos incômodos da situação."
Não é o meu caso, tenho consciência que o principal ponto da minha doença foram causas sociais, situação de pobreza, por me encontrar num país subdesenvolvido na época. Também por causas inexplicáveis , como por exemplo, por que nasci onde nasci?
É, a vida tem suas surpresas, sempre quis me esquivar da minha deficiência, no entanto, estou mais exposto que alguém pego despido em plena praça pública.