Meninas dos bordéis

        
Estou sabendo que as prostitutas da Bahia  têm, agora, sua emissora de rádio - a Rádio Zona. Se você é internauta, e deseja ouvir o que elas têm a dizer, acesse o site
www.radiozona.org.br

        Me diz um jornal de Salvador, que a Rádio Zona conta com o apoio de um Ministério que, neste momento da vida da República, dele pouco se ouve falar: o Ministério da Cultura. Conduzido - entre um acorde e outro de uma guitarra  - por um compositor e cantor da Boa Terra. 

        Lembram  idealizadores , que a programação da emissora vai se  preocupar em informar, instruir e educar as garotas que têm nos lupanares seu local de trabalho. 

        Aplausos demorados, portanto, para a Associação das Prostitutas da Bahia, com cerca de três mil associadas, só em Salvador.  
          Para a Coordenadora Geral da Associação, é prostituta "cada mulher que tira a roupa por dinheiro..."  
         E ainda coloca no mesmo barco as chamadas "garotas de programa" e as que fazem trotuar, nos calçadões das grandes cidades.

        A entidadevê, afinal,  vê vitorioso, o anseio de cada prostituta que é o de ter voz e vez.  Acabando  com aquela de que nossas meretrizes não devem sair das sarjetas urbanas; ou viverem, pra sempre, nos braços de machos apatacados, como suas escravas.

                           * * *

         Antes de surgir, na Bahia, este saudável movimento de recuperação moral de nossas prostitutas  e assemelhadas, uma goiana, extraordinária poetisa, fez versos belíssimos defendendo as meninas dos bordéis; as meninas de programa; e aquelas jovens que vagueiam nos calçadões, rodando suas bolsinhas, a procura de eventuais e desconhecidos parceiros. 

        Foi Cora Coralina, com seu poema Mulher da vida - Minha irmã - "Na fragilidade de sua carne maculada/ esbarra a exigência impiedosa do macho."
        A Associação das prostitutas da Bahia devia conceder-lhe o título - post mortem - de corajosa defensora da  meretriz.  Fica a sugestão. 

                  * * *

        Lembro-me da primeira vez que cruzei a porta lateral de um prostíbulo.  Aconteceu há mais de cinqüent´ anos.
        Eu morava em Fortaleza. Tinha deixado o seminário, fazia pouco tempo. Foi penosa e tímida a minha estréia no "mundo do pecado"...
        Cheguei lá, convencido de que estava entrando no inferno!  Em questão de minutos, cometeria um "pecado" apelidado pela minha Igreja, a Católica,  de for-ni-ca-ção, ou seja, ter relação sexual pecaminosa!

        Entrei, e me deitei. Mas sem antes repetir, várias vezes, que a carne, de fato, era fraca...  
        Queria, com essa observação, evitar o "remorso"  que fatalmente se abateria sobre mim, depois de praticar o  "pecado mortal" de fazer amor com uma mulher... 
         Mas um encontro que seria, em princípio, um momento puramente libidinoso, terminou  se transformando em um relacionamento duradoro e respeitoso. Fiquei amigo da menina do bordéu.
 
         Conheci prostitutas de indiscutível riqueza de caráter. Mulheres de histórias tocantes, fascinantes, doridas; mas de uma dedicação impecável e dignidade irretocável, no exercício do seu ingrato mister...
        
        Queiram os céus, que com sua rádio, levando a cada uma, sem mentiras, sua dura realidade, as meretrizes baianas sejam, num futuro próximo, iguais às hetairas da antiga Grécia, ou seja, prostitutas de alto nível, elegantes, respeitadas. 
        Como, por exemplo,  Aspásia de Mileto, que foi dona absoluta do coração de Péricles, importante político da velha Hélade.


        

        
       
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 01/09/2007
Reeditado em 19/08/2013
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