Pequenas histórias 202
Esmigalha o pó
Esmigalha o pó dos sentimentos nas frias esquinas recheadas de solidão amortizando a paixão solitária.
Soa em algum apartamento vazio de alma o som de piano num repercutir monótono de teclas de marfim concretizando o existir.
O corpo se eleva efêmero na batida das notas a cada passo ao calcar a calçada uniforme de indivíduos ausentes de amor.
Sem um ponto de chegada, ausente de si mesmo, pouco se lixando, caminha a satisfação entre transeuntes levados por alguma necessidade.
Olha as vitrines iluminadas de incongruências fétidas pelo prazer do consumimos desenfreado.
Ele olha sem ver o que esta a sua frente.
Olha por olhar e sorri, não precisa mais consumir para ser feliz.
Descobre que a felicidade não está atrás da vitrine enfeitada.
Descobre que a felicidade não é consumir o instinto de possuir apenas por possuir.
Descobre que a felicidade está tão somente além ou, melhor, está aquém do necessitado para se viver.
Descobre que para viver é preciso somente navegar nas ondas do coração seguindo os batimentos.
E tal descoberta, renova-o por inteiro e por inteiro vai ao encontro da felicidade dentro de um sorriso correspondido.
Assim, mais uma vez, abre a janela da alma, abraça o som do piano e deixa que Beethoven conduza-o pela sinfonia da vida.
pastorelli