O DOCE DE LEITE DE ANA MARIA - (BVIW)
A professora Mafalda tinha cara de brava toda tarde, por eu não saber dividir a conta. Aqueles problemas todos, e as reguadas que minha mãe me dava na cabeça quando me tomava a tabuada, parecia não adiantar.
Um dia, no final da aula, Ana Maria estava vendendo doce de leite na porta da escola. Doce de leite fininho em pedaços pequenininhos, triangulares. Eu não tinha dinheiro para comprar um docinho, mas quando cheguei em casa, perguntei para minha mãe por que ela tinha aqueles docinhos para vender e poucas crianças tinham dinheiro para comprar.
Depois da explicação da minha mãe eu achava que os docinhos da Ana Maria eram muito importantes. Ela me deu dinheiro para comprar um. Eles eram vendidos para ajudar a pagar as contas do mês e só crianças muito pobres precisariam vender os docinhos.
Eu não sabia se eu era feliz ou não por não precisar vender docinhos. Minha mãe fazia tantos em casa com o leite que as tias mandavam da roça e não me deu mais dinheiro para comprar nenhum. E enquanto Ana Maria acertava as contas de matemática, eu precisei repetir o terceiro ano.