Sessenta minutos. Três mil e seiscentos segundos. Uma hora.
Oito mil e setecentos e sessenta horas. Um ano.
Depois de tanto tempo, a vida envelhece. A célula necrosa.
A memória esmaece. A visão enfraquece e tremula.
Os ventos trazem mensagens requentadas.
As vozes sussuram quando antes gritavam.
É a corrosão do tempo, dos ossos e dos ânimos.
O corpo não corre. O corpo socorre o espírito.
Que vaza sensações, segredos e medos.
Conte comigo até dez. Lá, se vão dez segundos...
Conte novamente... e, agora, depois de vinte segundos,
a ideia de liberdade e sobrevivência nos visitam...
Nem todos os sobreviventes foram dignos.
Nem dignos foram sobreviventes.
A matemática incansável contabiliza, organiza e finalmente torna finito o
infinito da vida. O oceano imenso de visões, ilusões e miopia.
A dislexia aguda que engana a razão.
O Alzheimer que engana a memória.
A trapaça do envelhecimento, a saudade patológica de algo que não mais existe.
A mania obsessiva de insistir, de clamar, de reivindicar e, jamais desistir.
Da rima, da poesia, do lirismo irremediável.
E, da esperança intrínseca de
estar registrando os segundos, como se fossem preces inseridas na garrafa vazia num oceano de afetos em maremoto.
Nietzsche, me perdoe!