Diga-me com quem tu falas

Como as digitais, como o DNA, você sabe exatamente o que terá de falar, e o que ouvirá de cada pessoa com quem conversa, ou com quem tentará conversar. Sim, pois existem determinadas pessoas, que não permitem que ninguém mais fale, ficam visíveis as veias saltando no pescoço, o nariz abrindo assas como se fosse decolar, e a temperatura ambiente sobe, por mais delicado que seja o tema; eu tenho quase que certeza de que elas são sonâmbulas, pois não acredito que parem de falar só para dormir.

Por outro lado, conheço pessoas que não falam, nos aproximamos, dizemos bom dia, e temos como resposta um bom.... que, educadamente, eu entendo como dia. Em absoluto não é por não dominarem o português, elas saberiam falar corretamente, mas não falam; recordes alcançados, dizem, mas eu não presenciei, foram seis SIM, e quatro NÃO, que uma dessas oradora teria usado num só diálogo, fantástico, não é mesmo?

Hipocondríacos, como é bom falar com eles, não que o tema doença me agrade, mas percebemos o quanto somos saudáveis, que todos os males do mundo estão concentrados em nosso interlocutor, e mais ainda, as dores deles são mais fortes, as operações foram as mais delicadas, eles já viram a luz, no final do túnel, por mais de cinco vezes e têm como padrinho de casamento seus respectivos médicos, mas não todos, os padres não concordariam com tanta gente no altar. Estiveram presentes no casamento, a mulher do oftalmo, do cardio, do uro, do trauma, além, é claro, de sete pacientes, que se fizeram amigos particulares, depois de tanto tempo de convívio... em enfermarias. Tenho de fazer aqui uma consideração louvável, nenhum dos convidados usou jaleco na cerimônia.

Existem avós que falam dos netos, e como falam, exaustivamente, como se alguém pudesse achar engraçadinhas as gracinhas de netos alheios; como eu fujo de tais avós, nunca ouço o que falam, é muito chato.

Você já conversou com pessoas que contam seus erros, mas não sem antes justificarem o porquê do deslize?

-Sim, eu não contribuí com nada, na “vaquinha” que meus colegas fizeram, no final do ano, para promover o Natal das Crianças-Creche Santo Antônio; e nem podia, minha conta corrente estava zerada, com tantos presentes que temos de dar nestas datas. Naturalmente as pessoas que dizem isso terminam de dizer e se viram, para que não sejam vistas as rugas de vergonha e arrependimento que se apresentam nas faces. Eu já vi pessoas se justificando por não ter ido a um enterro, pois a sua avó havia morrido, e a morte da sua avó foi contada ante,s como justificativa, tornando menos rude a sua ausência no enterro do qual deveria ter comparecido; afinal a sua avó ainda permanece muito saudável.

Não suporto mesmo são aqueles que contam como são importantes as pessoas com quem convivem, ministros, juízes, governadores, médicos de ponta, todos fazem parte do seu rol de amizade. Preservam a integridade moral, mas não teriam o menor escrúpulo em dizer que já tiveram algum envolvimento amoroso com alguém que freqüenta, com assiduidade, colunas sociais.

Mas foi bom falar com vocês... tchau

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 07/05/2018
Reeditado em 07/05/2018
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