O Pau do Lalado
Consta nos anais da câmara, que o pau do Lalado, antes circunscrito em Coroas, ou Coronel Xavier Chaves, como queiram, ganhou fama e ultrapassou as fronteiras do município. Primeiro chegou a São João, seguido por Tiradentes, Ritápolis e a todos os municípios e distritos da região. Depois da fama em Contagem e em Belo Horizonte, não parou mais e ficou conhecido em toda Minas Gerais. Rapidamente a fama chegou à Cidade Maravilhosa. Dizem que os cariocas alvoroçaram. E foi se espalhando Brasil afora. Em Formosa, município de Goiás, foi construída uma réplica. Mania dos goianenses imitar os mineiros.
Em Coroas não há quem não tenha se sentado no pau do Lalado. Alguns, inclusive, dormiram sobre ele, sob o efeito de uma esquenta peito, molha a garganta, água benta, entre outros nomes dado a cachaça, depois de saboreado o pastel de Dona Maria Selma.
O pau do Lalado é democrático. Lá sentam-se petistas, tucanos, emedebistas, enfim, todos os partidos e adeptos de qualquer crença religiosa. Sentam-se, também, ateus e agnósticos. Sentam-se também torcedores de vários times de futebol. Comenta-se à boca pequena, que algumas mulheres também sentaram-se ali. O escriba declina os nomes. Mas o assunto principal discutido no pau do Lalado é o que está acontecendo na cidade. Sabe-se, pelo pau, digo, pelas bocas de quem nele sentam, quem está saindo com quem; que as carretas de minério tiraram o sossego; que o pão de queijo da padaria não aumentou o preço, mas diminuiu de tamanho; que o Lalado deveria abrir o bar todos os dias, como o Bar do Dirceu. Alguém replica: - do Dirceu, não, agora é da Sara. Outro retruca: - será sempre o Bar do Dirceu. O Bar do Burrão não fica de fora. Discute-se também quem fabrica a melhor cachaça da região. Uns garantem que é Jacuba, outros que é a Século XVIII. E que a Olaria não fica atrás; que lá em Cachoeira tem moças solteiras. Sobre a administração municipal paira um silêncio. Só mesmo ao pé de ouvido, com alguém de confiança, arranca-se um comentário, para o bem ou para o mal. Outro debate que pega fogo é quando se fala das belas garotas da Vila Fátima e do COSNEC - Consciência Negra. Que lá o povo é mais festeiro que os do centro, de Nossa Senhora da Conceição e Vila Mendes, mas que todos deveriam conhecer São Caetano. Fala-se muito do Carnaxachaça; da exposição agro-pecuária. Lamenta-se muito a morte precoce de Alexandre Marcos, baterista de Márcio e Heleno, enfim, quem deseja saber os acontecimentos da cidade, precisa sentar-se no pau do Lalado e apreciar a Igrejinha e as esculturas de pedra, a praça, crianças e adolescentes indo e retornando das escolas. Um trator, uma carroça.
Cidadezinha Qualquer *
Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus.
Consta nos anais da câmara, que o pau do Lalado, antes circunscrito em Coroas, ou Coronel Xavier Chaves, como queiram, ganhou fama e ultrapassou as fronteiras do município. Primeiro chegou a São João, seguido por Tiradentes, Ritápolis e a todos os municípios e distritos da região. Depois da fama em Contagem e em Belo Horizonte, não parou mais e ficou conhecido em toda Minas Gerais. Rapidamente a fama chegou à Cidade Maravilhosa. Dizem que os cariocas alvoroçaram. E foi se espalhando Brasil afora. Em Formosa, município de Goiás, foi construída uma réplica. Mania dos goianenses imitar os mineiros.
Em Coroas não há quem não tenha se sentado no pau do Lalado. Alguns, inclusive, dormiram sobre ele, sob o efeito de uma esquenta peito, molha a garganta, água benta, entre outros nomes dado a cachaça, depois de saboreado o pastel de Dona Maria Selma.
O pau do Lalado é democrático. Lá sentam-se petistas, tucanos, emedebistas, enfim, todos os partidos e adeptos de qualquer crença religiosa. Sentam-se, também, ateus e agnósticos. Sentam-se também torcedores de vários times de futebol. Comenta-se à boca pequena, que algumas mulheres também sentaram-se ali. O escriba declina os nomes. Mas o assunto principal discutido no pau do Lalado é o que está acontecendo na cidade. Sabe-se, pelo pau, digo, pelas bocas de quem nele sentam, quem está saindo com quem; que as carretas de minério tiraram o sossego; que o pão de queijo da padaria não aumentou o preço, mas diminuiu de tamanho; que o Lalado deveria abrir o bar todos os dias, como o Bar do Dirceu. Alguém replica: - do Dirceu, não, agora é da Sara. Outro retruca: - será sempre o Bar do Dirceu. O Bar do Burrão não fica de fora. Discute-se também quem fabrica a melhor cachaça da região. Uns garantem que é Jacuba, outros que é a Século XVIII. E que a Olaria não fica atrás; que lá em Cachoeira tem moças solteiras. Sobre a administração municipal paira um silêncio. Só mesmo ao pé de ouvido, com alguém de confiança, arranca-se um comentário, para o bem ou para o mal. Outro debate que pega fogo é quando se fala das belas garotas da Vila Fátima e do COSNEC - Consciência Negra. Que lá o povo é mais festeiro que os do centro, de Nossa Senhora da Conceição e Vila Mendes, mas que todos deveriam conhecer São Caetano. Fala-se muito do Carnaxachaça; da exposição agro-pecuária. Lamenta-se muito a morte precoce de Alexandre Marcos, baterista de Márcio e Heleno, enfim, quem deseja saber os acontecimentos da cidade, precisa sentar-se no pau do Lalado e apreciar a Igrejinha e as esculturas de pedra, a praça, crianças e adolescentes indo e retornando das escolas. Um trator, uma carroça.
Cidadezinha Qualquer *
Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus.
* Carlos Drummond de Andrade
imagem : jef