Da janela
Tenho uma janela que dá para a estrada e sempre me pego olhando longe para ver quem vem chegando. Se alguém parte, também fico ali até que ele desapareça na última curva.
As janelas são tão confortáveis, nos permitem até sentar na moldura e nos comunicar com o mundo...
Um dia, um passarinho fez um ninho na roseira do meu jardim. Passei horas olhando a construção daquele ninho. Que habilidade tem os passarinhos... Com persistência e delicadeza fez uma morada para botar seus ovinhos. Eu da janela, pude testemunhar quando os filhotinhos começaram a nascer... A mamãe ia e vinha com uma espécie de papinha para alimentá-los.
Ah, essa janela já me mostrou um bocado do mundo... Num dia de chuva forte, me apressei em fechá-la, quando vi um gatinho encolhido na varanda. Meu coração se condoeu, afinal, ventava muito. Pus o bichano para dentro e até hoje ele é o meu companheiro de janela.
E quando, de manhãzinha, o sol entra pela vidraça? A luz se quebra em várias cores e incide sobre a mesa. Ponho a cesta bem posicionada e acredito que o pão está abençoado e assim estará todo o meu dia.
Da minha janela eu vejo muito além. Quando a noite se aproxima, posso observar os tons pastéis do céu e saúdo, escostada no batente, a primeira estrela errante que desponta na delicada tela de ilusórios pincéis.
Brinco de procurar os objetos no céu. Um dia mostrei pro meu gatinho a lua, e ele parecendo entender o que eu falo, deu um salto para fora como se fosse buscar, para mim, um raio do luar...
Minha janela é meu passa-tempo. Não vejo daqui outros lares, não vejo ao longe outras janelas. Tenho o privilégio de ver somente a parte bela do mundo. Aquela que mostra, a minha janela!
Cláudia Machado
6/5/18