AO AMIGO BERNARD.SUA CRÔNICA.A CALAMIDADE BRASILEIRA.

"Quando e como vamos sair dessa enrascada.." é quase um "de onde viemos, para onde vamos", da órbita transcendental, indagações que afligem o pensamento dos que pensam, sem resultados efetivos além da fé religiosa. E no mesmo diapasão ficam sem respostas as insondáveis irresponsabilidades da gestão de nossos destinos pelos irresponsáveis.

Com boa parte conhecida, presencialmente avaliada, por anos, países e gentes, em suas variantes das características todas, sem setores definidos, ampliada minha curiosidade em saber por saber que nada sei, da escola socrática, continuo na mesma, bafejado de algumas certezas, praticamente nulas, na incerteza em que vive a humanidade, hoje globalizada e inseridos estando nós nesse concerto de vontades, especialmente no profundo fosso que no momento atual afundamos, do desencontro ao cinismo dos que estão mortos politicamente e indicam que irão na final da Copa do Mundo nela estando o Brasil.

Complicados os diagnósticos diante de cinismos ególatras e pretensiosos. Sabemos o que há, não o que virá.

Sem ser um "alfa" como diz você, e muito menos um consumista selvagem, mas conhecendo um bom espectro de "como" se desenrola o mundo das gentes, continuo sob essa angulação como o bardo shakesperiano do qual faço religião ferrenha, "não ouso crer nem descrer de nada". Com isso muito tenho aprendido no curso da vida. Somos infinitamente pequenos e concorrentemente frágeis.

Colhendo informações de notáveis, sustentados em meritórias profissionalidades, que podem externar possibilidades pelo princípio da razoabilidade, já andei por vários caminhos nesse Brasil de crise, A MAIS SÉRIA DE TODOS OS TEMPOS, e sobre isso muito converso com minha grande interlocutora, minha mulher, ela professora de cegos por formação, sem mais exercer, porém de uma argúcia observadora sem limites. Farta visão. Me ouve com sensibilidade incomum, e me questiona. E disse a ela por predições, faz tempo, no inicio da devastação do desemprego, da quebra da gigante locomotiva Petrobras, fazendo descarrilar incontáveis vagões, e do abortamento do consumo somado à ilimitada ruína imobiliária com distratos de incorporação nos tribunais, compra e venda de imóveis, paralisadas as atividades, execuções por universo de inadimplementos variados, imóveis locados quase para pagamento de IPTU e condomínio, minimizado o locativo, aliviados os encargos, aluguel praticamente zerado, tudo isso com alcance que trouxe um Brasil desfigurado, e que estávamos em situação sem similar antecedente e de difícil saída.

Pensamos inclusive em forma de sair para outro rincão, toda a família, possibilitando às netas algo melhor, todos com cidadania europeia. Recuamos face aos vínculos profissionais dos filhos, felizmente solidamente estáveis, e difíceis de construir tais patamares em iniciática.

Já voltei desse caminho iniciado, de terror econômico, surpreso com a saída da recessão, que pensei alongada, mas volto a ele. Ou seja, negativismos gigantescos construídos antes me surpreenderam com acenos de crescimento, já descartados de novo, a mesma comparação que com sua habitual elasticidade você faz, faço sempre analogicamente, Brasil e EUA descobertos com oito anos de diferença, assemelhadas territorialidade, potencialidades de riquezas, das duas nações, nós nessa situação, eles com 15 trilhões de PIB em dólares, aproximados sessenta trilhões de reais.

E descerra-se o "para onde vamos?". Difícil identificar com esse quadro institucional, sem considerar por óbvio casas congressuais, onde no STF faltam um Bilac Pinto, um Aliomar Baleeiro e outros dessa estirpe, outras épocas, colocando um "balança mas não cai" sobre tênues fios de empolada retórica com conteúdo zero, sem sedimentação no mínimo, mesmo onde existam correntes opinativas como normal na ciência do direito, sem que se permita confundir, por interesses políticos e casuísmos "fulanizados" , norma com princípio, como a presunção de inocência e a culpa formada. Com o risco de colocar na rua milhares de criminosos como antes, desde colarinhos brancos a homicidas , estupradores ,pedófilos, etc.

Juízes não vão aos palácios, só institucionalmente em festas comemorativas, não são consultores de governo. Harmonia e independência de poderes, norma constitucional, não significa nem indica promiscuidade entre poderes.

O que virá? Sabemos que nada sabemos em um cenário tão desastroso e conturbado; é esperar. Mas sobrepaira uma verdade incontornável: estamos em exclusão total, e sem representação conforme o mínimo desejável, a não ser por malta movida por incorreção de todos o graus.

O que é ser excluído?

Todo mundo sabe. O vocábulo responde; excluir é colocar de lado, afastar, deixar de admitir os excluídos.

Não conceder direito de inclusão não é só pertinente aos deserdados da sorte, mas a todos que não têm voz de implícita e necessária representação.

Não conceder direito de inclusão, também significa omitir no sentido de não incluir a tudo que diz respeito à "livre expressão", direito individual, desde a livre expressão efetiva, com resultados, até à protagonização, realização desse direito. Voto, representação, é a maior expressão concedida como direito , e por isso deve ser ouvida maximamente. São frutos de ação e omissão a negativa desses direitos.

Exemplifique-se:

Desde a Constituição do Império, 25 de março de 1824, Dom Pedro I, “por graça de Deus (é pomposa sua abertura) e unânime aclamação dos povos” iniciou a exclusão por omissão. Desde então só fez crescer o ato de se omitir de maneira invulgar.

Assim, a promessa de que a Constituição, além de outras garantias, também assegurava, artigo 31, “os socorros públicos”; artigo 32, “a instrução primária é gratuita a todos os cidadãos; artigo 33, “colégios e universidades, onde serão ensinados os elementos das ciências, belas-artes e artes”, ficou só no papel. Ficaram também as posteriores promessas de todas as outras constituições.

Força é dizer que todas as constituições que se seguiram, que não vamos arrolar por alongado, seguiram o exemplo vestibular. Foi o início da exclusão com começo no Império, desdobramentos na Primeira República, desembocando através dos tempos na atual situação por ninguém ignorada e de desnecessária definição, de descompromissos orçamentários. Chegou-se a essa calamidade.

O maior bem do ser humano, vida, é um bem relativo hoje, banalizado. O mesmo se dá com a liberdade na representação,garroteada pela mentira, é como o cidadão brasileiro nas grandes cidades, que perdeu sua liberdade, segregado em todo o aparato de segurança particular desenvolvido que esgota fortunas e não funciona.

É assim essa moléstia cidadã, que nos coloca no labirinto sem que se saiba quando ou se vamos dele sair. Perdemos nosso maior bem, a liberdade. E essa perda se projeta em todos nossos direitos, estamos todos excluídos.

Um abraço fraterno Bernard.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 05/05/2018
Reeditado em 05/05/2018
Código do texto: T6327895
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