"EU TENHO UMA CABELEIREIRA E ELA VIVE SORRINDO..."
Eu tenho uma cabeleireira e ela vive sorrindo...
Mas não aquele riso frouxo das pessoas imbecis. Aquelas que na verdade ficam dando risada para disfarçar o fato de que não conseguem entender nem metade do que escutam. Ela não ri assim... ele sorri, lindamente e sinceramente..., e as vezes até, - eu posso perceber – tristemente.
Eu não sei muito sobre ela. Pra falar a verdade não sei nem se ela é uma boa cabeleireira. Pois só a vi cortando o meu cabelo e de ninguém mais... Ela tem: Marido, filho (ou filhos... não sei quantos). Ela também tem vitiligo. Aquela doença que faz as pessoas “mudarem de cor” (numa explicação rápida e chula...). Ela conversou comigo sobre a sua doença, logo na primeira vez em que cortei o cabelo com ela. Ela me contou que chorou muito, por muitos dias, quando começou. Mas que hoje não é mais importante. Eu pensei comigo: “Tudo que envolve o nosso corpo, nos importa.”, porém compreendi a sua posição, afinal... a vida segue em frente...
Ela... – é provável... – tem um nome. E eu me pus numa situação bizarra e constrangedora, (e não é a primeira vez). Eu simplesmente esqueço de perguntar o seu nome. E o tempo vai passando, os meses vão passando e eu nunca pergunto. De modo que agora, tendo mais de seis meses, quase um ano, que a conheço, sinto que seria muito indelicado perguntar. E o pior... sempre que chego lá, sou o único a ser atendido.
Hoje eu estava subindo uma ladeira e ouvi uma voz: “hora de cortar esses cachos!”. Me virei bruscamente, como que tirado d’um transe, e lá estava ela sentada no meio fio, com aquele sorriso bonito. Dei risada, peguei a sua mão com carinho, conversamos rapidamente e subi o resto da ladeira pensando (e ainda estou pensando...), que talvez a minha cabeleireira não exista. Talvez ela seja um espírito de luz ou uma alucinação que surge vez ou outra para me deixar feliz, ou pensativo. Na verdade, eu prefiro até acreditar que ela de fato seja sobrenatural e designada a alegrar as pessoas. Não preciso saber o seu nome. O seu nome não é importante.
O que eu preciso saber agora... é quem realmente anda cortando o meu cabelo desde o ano passado pra cá.
H.B