Desejo de morte. Anseio de vida.
O que é para alguém passar a vida com a sensação de ser como palavras desnecessárias usadas em uma redação com o mero objetivo de preencher lacunas, sem que os seus significados por si sós não as tornem importantes?
O que é para alguém sentir-se parte de uma série numérica, mas ser visto como um zero à esquerda?
O que é para alguém dar tudo de si, porém esse tudo ser tão pouco que sequer é notado?
Mas de que adiantam os "ais" se não há quem os escute? De que adianta o lamento, se não há esperança de contento?
É apenas um alívio imediato para a alma.
O respirar sob o fardo, tentando manter a calma.
O que fazer quando a alegria, como areia escorre pela mão?
Tem coisas que na vida parecem transitar no sentido só de ida.
Há quem diga que a semente só vive se vai morrer, mas pode ser que caindo e morrendo nao queira reviver.
A morte é boa, a morte faz os vivos interagirem. Perante a morte há interação, congregação onde muitos laços são refeitos. A morte parece ser a solução quando nada mais tem jeito.
Mas, por fim, a morte é vã, pois depois de tudo feito nunca chega o amanhã.
A morte deixa o inerte sem a consciência da sua vitória, logo, a morte por si mesma torna-se inglória.
A morte traz em si o resumo dos "Ais" e com ela a falsa bandeira da paz.
Todavia, há mais paz no coração de quem chora em agonia do que para aquele que a si mesmo silencia.
Não. Não há, apesar da angústia extrema e da aflição dos pensamentos, apesar da luta movida, não há maior solução, nem maior contentamento do que continuar mais-querendo a vida.