A TATUAGEM

Zeca sempre quis fazer tatuagem, mas seus pais nunca permitiram.

Quando se viu sozinho nos Estados Unidos, o jovem realizou o seu sonho.

Depois de ficar dois anos, sete meses, vinte e três dias e nove horas fora de casa, o rapaz chegou.

No aeroporto, no meio dos parentes e amigos, sua mãe estava com uma placa nas mãos: “mister Zeca. Demorou!!!”

-Ai, meu filho! Graças a Deus você está, de novo, conosco! Deus te abençoe! Eu te amo tanto! Quase morri de saudade de você!

Minha Sagrada Escritura!!! Meu Deus do Céu!!! O que é isso, meu filho?!

-Tatuagem.

-Você fez?! Eu e seu pai te pedimos tanto que não fizesse!!

-Não tem nada a ver, mamãe! Eu gosto!

-E o que são esses rabiscos, aí?

-Não são rabiscos. São dois símbolos chineses, que significam saúde e paz.

-Hum... Ainda bem que a manga da camisa tampa, né?

Um ano depois, Zeca chegou do trabalho e, esquecendo-se que havia feito outra tatuagem, enroscada na primeira, tirou a camisa.

-O que é isso, pelo amor de Deus?! É um abacaxi?!

-Não, mamãe, é um peixe, mas fala baixo para o papai não escutar.

-Pei-xe?! Que peixe é esse que você está falando, filhão?

É... É... É uma tatuagenzinha que eu fiz ontem, papai.

-Você tem coragem de dizer que esse trem enorme, aí, é uma tatuagenzinha?! Já não bastava a outra? Quando você vai parar com isso, ”menino”?

O diálogo acabou entre pai e filho, por um bom tempo.

Certo dia, Maria Eduarda foi à casa dos seus avós e quis agradar o seu tio.

-Que lindo o seu pássaro, tio Zeca!

-Pás-sa-ro, Dudinha? Onde você está vendo pássaro, por aqui?

-Aí, no seu braço, ué!

-Isto não é pássaro; é peixe.

-Né, não! É coruja, tio!

-Duda, isto aqui é uma carpa oriental, que significa vitalidade e longevidade, viu? Vou me abaixar para você ver direitinho.

Inconformada, a garotinha chegou bem de perto, olhou, olhou, virou a cabecinha para um lado, para o outro, passou a mãozinha na tatuagem e foi brincar.