Colo Vazio
A carência afetiva causa uma sensação estranha. Ouço pessoas que clamam por um ombro, ou um colo para chorar. Admiro as homenagens às mães, mormente nesta época de maio. Estão todas com seus braços abertos, e com lágrimas de agradecimento.
Há colo que comporta muitas lágrimas de felicidade ou queixumes. Há colo que permanece receptivo para um conselho ou um delicado puxão de orelha. Há colo que premia e mima. Há colo fechado, de propriedade particular, que não abre sequer para a solidariedade. São os verdadeiros carentes.
Repito: a carência afetiva causa uma sensação estranha. “Se não amo e não sou amado, fecho-me em meu mundo.”
Tive uma tia que dizia que quem não visita, não é visitado. Isso foi no tempo em que os costumes de cordialidade incluíam visitas entre familiares e vizinhos. Baseado nesse pensamento acho que quem mantêm seus braços cruzados, ou seja, não os abre para receber, os manterá vazios sempre.
Braços característicos de uma pessoa carentes: sempre pouco ou nada receptivos. Braços que gostariam de ser recebidos, mas não recebem. Querem porta de saída, mas mantêm fechada a porta de entrada. Resultado inevitável: colo vazio.
(Republicação de maio de 2010)