Boas ideias não pagam a conta
Numa época e numa sociedade em que mais do que nunca, prevalece a máxima de que "o mundo é dos espertos", o que fazer se não nasceu para o ser ou não adquiriu as qualidades necessárias para sê-lo?
Essa reflexão me veio em 18/09/15, enquanto, na área de descarga de um grande hipermercado, aguardava ser chamado para descarregar as mercadorias, as quais transportava.
(Escrevo como havendo isso acontecido em algum tempo passado e uso, inclusive, verbos no passado, porém esta escrita acontece imediatamente após o ocorrido. Portanto, sempre com o propósito de poder utilizar essa reflexão no futuro, escrevo como se lá estivesse, entretanto, procurando pôr em prática o exemplo de um educador, do qual foi publicada uma matéria numa revista que trata de temas relacionados à educação e que intitulou a matéria, "Penso logo Registro" à moda de René Descartes, na obra O Discurso do Método em que escreveu, "Penso, logo existo.)
A propósito, esta mesma sociedade, me parece estar inchada de pessoas que existem, todavia, como se não pensassem e permeadas de algumas que pensam, mas são como se não existissem.
Ocorre que tive o prazer de conversar por alguma meia hora, talvez mais, com um cidadão, na mesma situação que a minha, porém com, largamente, maior experiência de vida, apesar de ser apenas oito anos mais velho do que eu.
Se eu disser que este cidadão era um caminhoneiro, também esperando para descarregar as suas mercadorias e que me disse que conhece Las Vegas, tem um filho nos EUA estudando e treinando futebol e que já foi proprietário de uma empresa com quarenta funcionários, muitos rirão na minha cara e me acharão ingênuo por ter acreditado.
Mas eu não disse que "verdade" não paga conta, eu disse que boas ideias não pagam. E cá entre nós, tudo o que dele ouvi, sobre religião, mesmo não defendendo nenhuma, política, ainda que não chegou sequer a mencionar partido, mas traçando um paralelo comparativo entre Brasil (os brasileiros) e EUA (os americanos) e isso não apenas por repetir paradigmas pessimistas cristalizados de que o brasileiro é inferior, mas falando de ideias com propriedade. Além de temas como tratamento humano (forma de tratar) com pessoas marginalizadas, inclusive dependentes químicos, gestão de pessoas, profissionalização e empregabilidade, etc.
Ponderações em torno do caráter e das atitudes do indivíduo, baseadas na cultura da qual este sofre influência e que o mesmo também não deixa de ser criador de cultura.
Como acabamos por discorrer mais sobre ideias, só me disse que sua empresa quebrou, que perdeu quase todo o dinheiro que movimentava e que os últimos recursos de que dispunha, investiu no filho com o propósito de enviá-lo ao exterior para que, construísse ele, seu próprio futuro.
Fiquei extremamente curioso sobre como e porque a empresa foi à falência, mas não foi possível darmos continuidade, o dever o chamou.
Enfim, se for verdade tudo o que me disse, as suas boas ideias não pagaram a conta de sua empresa, em algum momento. Se não o for, somente pela capacidade de pôr em ordem tudo o que me disse com precisão e propriedade, se as boas ideias pagassem a conta, não estaria ele sentado na grama do lado de fora do alambrado falando apenas comigo, mas palestrando para multidões.